Necropolítica: Racismo estrutural e maternidade negra na Bahia
Abstract
Os pensamentos de Lélia Gonzalez (1981) e MBEMBE (2016) evidenciam os temas demandados pelo Movimento de Mulheres Negras no Brasil e a agenda política no tocante aos direitos humanos, revelando o caráter atemporal e violento do racismo-sexismo e dominação/exploração de classe, tendo como a resultante mais cruel a morte negra. A realidade vivida por mulheres negras na sociedade brasileira é atravessada pelas opressões de gênero, raça e classe. GONZALEZ (1981) denuncia como o racismo e o sexismo condicionam as experiências de vida e trabalho das mulheres negras colocando-as na base da pirâmide social e sendo alvos constantes de violências e violações sistêmicas, dentre as quais à mutilação e cessação violenta da maternidade negra devido à brutalidade policial
Os dados do Monitor da Violência, criado pelo veículo de comunicação G1(2023), publicou recentemente que em 2022 a Bahia foi o estado que mais registrou mortes violentas. No total foram 5.124 mortes, colocando o estado, pelo 4º ano consecutivo, no topo da lista. O relatório Pele alvo: a cor que a polícia apaga (2022) constatou que em 2021 pessoas negras representaram 97,9% dos assassinados em operações policiais na Bahia.
Este trabalho parte de reflexões de pesquisas em andamento no Programa de Pós-graduação da Universidade Federal da Bahia (PPGSS/UFBA). Pretende-se neste momento apontar como a violência urbana de natureza estrutural incide sob a juventude negra e nas famílias, tornando precoce a morte de jovens negros (as) e como este fenômeno têm afetado diretamente o direito das mulheres negras exercerem a maternidade ligada a seus/suas filhos(as). Esta pesquisa é de caráter qualitativo de acordo com (MINAYO, 2002), realizada por meio da pesquisa bibliográfica e documental (GIL, 2002).
Os resultados até o momento apontam o alarmante e crescente número de assassinatos de jovens negros(as) que ocorrem de forma precoce e violenta. A brutal interrupção dessas vidas altera a ordem natural do nascimento e da morte, interferindo diretamente no direito das mulheres negras de terem seus filhos vivos e poderem exercer sua maternidade com dignidade. Os dados apresentados expõem como à política de segurança pública da Bahia é orientada por uma política de morte, orquestrando um continuo massacre de jovens negros(as) e destruindo com eles, o direito das mulheres negras experenciarem o direito humano de constituírem família, e de viverem com respeito e dignidade.
REFERÊNCIAS
GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 4ª ed. São Paulo: Atlas, 2002.
GONZALEZ, Lélia. A mulher negra na sociedade brasileira. In: LUZ, Mater T. (Org.). O lugar da mulher: estudos sobre a condição feminina na sociedade atual. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1981.
MBEMBE, Achille. Necropolítica. São Paulo: N-1, 2016.
MINAYO, Maria Cecília de Souza. Ciência, técnica e arte o desafio da pesquisa social. In MINAYO, Maria Cecília de Souza DESLANDES, Suely Ferreira; NETO, Otávio Cruz; GOMES, Romeu (Orgs). Pesquisa social: teoria, método e criatividade. 21ª ed. Petrópolis: Ed. Vozes, 2002, p. 9-29.
MONITOR DA VIOLÊNCIA: Bahia lidera ranking de mortes violentas no Brasil pelo 4º ano consecutivo. G1. 01 de mar de 2023. Disponivel em: https://g1.globo.com/ba/bahia/noticia/2023/03/01/monitor-da-violencia-bahia-lidera-ranking-de-mortes-violentas-no-brasil-pelo-4o-ano-consecutivo.ghtml. Acesso em 01 de mar de 2023.
RAMOS, Silvia et al. Pele alvo: a cor que a polícia apaga. Rio de Janeiro: Rede de Observatórios da Segurança/CESeC, 2022. Disponível em: https://cesecseguranca.com.br/wp-content/uploads/2022/11/Pele-alvo-2.pdf. Acesso em 01 de março de 2023.