Quem é o 'indivíduo soberano'? Nietzsche sobre a liberdade
Abstract
O texto Who is the ‘sovereign individual’? Nietzsche on freedom, de Brian Leiter, foi originalmente publicado em 2011, pela Cambridge University Press, como um capítulo do livro Nietzsche's On the Genealogy of Morality. A Critical Guide, organizado por Simon May. O filósofo norte-americano Brian Leiter é professor da University of Chicago e diretor do Center for Law, Philosophy & Human Values dessa universidade. Autor de uma vasta produção acadêmica, particularmente, nas áreas da filosofia moral, política e jurídica, Leiter é reconhecido internacionalmente como um dos mais renomados estudiosos de Nietzsche, no âmbito da recepção anglo-saxônica das obras do filósofo alemão.
Neste texto, primeiramente, Leiter questiona o consenso entre os intérpretes contemporâneos de Nietzsche, de acordo com o qual o indivíduo soberano serviria para confirmar uma suposta teoria positiva da liberdade na filosofia do pensador alemão. Para contrapor este entendimento, o professor da Universidade de Chicago se propõe a analisar duas alternativas que ajudariam a deflacionar as interprestações correntes desta figura enigmática do “souveraine Individuum”, a qual aparece somente uma vez na Genealogia da moral. A primeira leitura possível seria a de compreender este trecho da obra sob a chave da ironia. A segunda seria a de considerar que, na verdade, o indivíduo soberano representaria o ideal de um self moderno, caracterizado por uma espécie de autodomínio.
Em seguida, Brian Leiter lembra que existem suficientes evidências do ceticismo nietzschiano no que tange à liberdade da vontade e à responsabilidade moral. A partir de citações diretas de obras da filosofia madura de Nietzsche, Leiter explica que a negação da causalidade da vontade humana é a chave para compreender esse ceticismo, e o caminho que o leva a postular o fatalismo, reconhecido como amor fati, e negar o compatibilismo defendido por grande parte dos intérpretes contemporâneos. Aqui, um dos argumentos centrais de Leiter é que Nietzsche utiliza os conceitos de liberdade e de livre-arbítrio em sentido revisionista, promovendo o que Charles Stevenson chama de definição persuasiva da liberdade. Leiter, conhecido particularmente pela associação de Nietzsche ao naturalismo, conclui então que a necessidade de tornar o filósofo mais ameno aos delicados leitores modernos esclarece o consenso contemporâneo em torno da interpretação de um Nietzsche que supostamente defenderia uma teoria positiva da liberdade humana.
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