Nietzsche e a “Divinização do Diabo”
Um projeto de “superação da moral”
Abstract
No polêmico aforismo 259 de Além de Bem e Mal, Nietzsche deixa claro que a crueldade e a exploração são elementos intrínsecos da vida humana. Essa exploração é -como diz o filósofo- “o fato primordial da história” [das Ur-Faktum aller Geschichte], a ilustração de uma relação de poder que expressa a mecânica da própria vida e, enquanto tal, não precisa sequer de defesa ou legitimação. Com essa afirmação declaradamente oposta a nossa sensibilidade moderna Nietzsche apresenta o cerne do problema moral de nossos tempos: a idealização e negativação dos afetos oriunda de uma interpretação moral Platônico-Cristã. Especificamente, a total incapacidade da moral Ocidental de, em boa consciência, incorporar elementos moralmente negativos ou atuar progressivamente para a “espiritualização’ e ‘divinização’ da crueldade”, aquela arte descrita por Nietzsche como “a sacralização das forças mais poderosas, mais terríveis e mais bem-afamadas, dito com a imagem antiga: a divinização do diabo.” (NF-1885, 1[4]).
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