O problema do sentido do sofrimento
Résumé
O artigo examina o assim chamado “problema do sentido do sofrimento”, formulado no FP 1888, 14 [89] e que trata do antagonismo entre o “sentido cristão” e o “sentido trágico”. A caracterização do problema será feita mediante a explicitação de três aspectos formais que atuam na constituição geral de suas teses: o contexto temático religioso, a linguagem da fisiologia e o uso de uma noção agonística de antagonismo. Para cada um será destinada uma seção que visará mostrar sua função na estratégia argumentativa nietzschiana. Num quarto momento, a convergência dos três elementos mostrará que a linguagem da fisiologia fornece a Nietzsche não somente um léxico, mas um procedimento investigativo heurístico, o qual, aplicado às valorações religiosas da existência, revela sua gênese em justificações antagônicas do sofrimento. Identificando o tema da justificação como o cerne que propriamente caracteriza o problema do sentido do sofrimento, a sua análise distinguirá dois significados pelos quais se pode justificar o sofrimento: um significado ideal de justificação, ligado a um tipo de sofredor, cuja debilidade fisiológica necessita da ficção de um além-mundo para fins de consolo e narcotização; e um significado trágico, reservado para os tipos de superabundância de forças, cuja afirmação jubilosa da existência justifica o sofrimento no próprio curso do vir-a-ser, na criação e renovação contínuas da vida. Concluir-se-á com considerações acerca da possibilidade de trabalhar o problema do sentido do sofrimento como hipótese interpretativa para uma crítica da modernidade.Téléchargements
Références
FREZZATTI JR., W. A. A fisiologia de Nietzsche: a superação da dualidade cultura/biologia. Ijuí: Ed. UNIJUÍ, 2006.
LLINARES, J. B. “Introdución al volumen IV”. In: Fragmentos Póstumos. Volumen IV (1885-1889). Tradução, introdução e notas de Juan Luis Vermal e Joan B. Llinares, Madrid: Tecnos, 2008.
MONTINARI, M. “Ler Nietzsche: O Crepúsculo dos Ídolos”. Tradução de Ernani Chaves. In: Cadernos Nietzsche, n. 3, p. 77-91, 1997.
MOORE, Gregory. Nietzsche, biology and metaphor. Reino Unido: Cambridge University Press, 2002.
MÜLLER-LAUTER, W. Décadence artística enquanto décadence fisiológica: a propósito da crítica tardia de Friedrich Nietzsche a Richard Wagner. In: Cadernos Nietzsche: n. 6, 1999.
____________________. Nietzsche: sua filosofia dos antagonismos e os antagonismos de sua filosofia. Tradução de Clademir Araldi. São Paulo: Editora Unifesp, 2009.
NIETZSCHE, Friedrich. A Gaia Ciência. Tradução de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia de Bolso, 2012.
NIETZSCHE, Friedrich. A Gaia Ciência. Tradução de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia de Bolso, 2012.
__________________. Além do Bem e do Mal. Tradução de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia de Bolso, 2005.
__________________. Aurora. Tradução de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia de Bolso, 2016.
__________________. Crepúsculo dos Ídolos. Tradução de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2006.
__________________. Digitale Kritische Gesamtausgabe Werke und Briefe (eKGWB). Disponível em: < http://www.nietzschesource.org/#eKGWB >.
__________________. Humano, demasiado humano. Tradução de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia de Bolso, 2006.
__________________. Ecce Homo. Tradução de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
__________________. Fragmentos Póstumos: Volumen IV (1885-1889). Tradução de Juan Luis Vermal e Joan B. LLinares. Madrid: Tecnos, 2008.
__________________. Genealogia da Moral. Tradução de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.
__________________. O Anticristo. Tradução de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.
__________________. O Nascimento da Tragédia. Tradução de J. Guinsburg. São Paulo: Companhia das Letras, 1992.
OLIVEIRA, Jelson Roberto de. A religião como má interpretação do sofrimento no Humano, demasiado humano, de Nietzsche. In: Dissertatio, n. 38, p. 97-120, verão de 2013.
__________________. Dionysos gegen den Gekreuzigten: Nietzsches verständniss des Apostels Paulus. In: Zeitschrift für Religions und Geistesgeschichte, v. 26, n. 2, p. 97-124, 1974.
SCHANK, G.“Dionysos gegen den Gekreuzigten”: Eine philologische und philosophische Studie zu Nietzsches “Ecce Homo”. Bern: Peter Lang AG, 1993.
SIEMENS, Hermans. Umwertung: Nietzsche’s“ war-praxis“ and the problem of yes-saying and no-saiyng in Ecce Homo. In: Nietzsche Studien, v. 38, p. 182-206, 2009.
SOMMER, Andreas, U. Kommentar zu Nietzches“Der Antichrist“, “Ecce Homo“, “Dionysos-Dithyramben“, “Nietzsche contra Wagner“. Berlin: De Gruyter, 2013.
STEGMAIER, Werner. Nietzsches Genealogie der Moral. Darmstadt: Wissenschaftliche Buchgesellschaft, 1994.
Téléchargements
Publiée
Numéro
Rubrique
Licence
Ao submeter o artigo, resenha ou tradução para a Estudos Nietzsche, o autor cede à revista o direito à primeira publicação do texto, mantendo, contudo, o direito de reutilizar o material publicado, por exemplo, em futuras coletâneas de sua obra.