Artigo relata desafios da telereabilitação de pacientes crônicos durante a pandemia
Por Otávio Gomes*

Foto: Freepik
O projeto de extensão PilatesAR, da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), adaptou as atividades presenciais para a modalidade remota e atendeu 162 mulheres com dores musculoesqueléticas crônicas entre 2020 e 2021. Estudo publicado na edição n.º 19 da Revista Guará avalia as estratégias utilizadas pelo projeto para manter o vínculo terapêutico e preservar a funcionalidade das pacientes durante o período de isolamento social imposto pela pandemia de COVID-19.
Criado em 2018 para oferecer sessões gratuitas de Pilates a pacientes com Artrite Reumatóide (AR), o PilatesAR migrou para aulas síncronas por videoconferência (Google Meet) e monitoramento via WhatsApp após a suspensão das atividades presenciais da Ufes em março de 2020. O projeto realizou 56 sessões de teleatendimento divididas em três etapas e contou com a participação de 30 estudantes de graduação, dois técnicos administrativos fisioterapeutas e uma fisioterapeuta externa.
A iniciativa ocorreu em um momento em que a fisioterapia online no Brasil ganhou autorização excepcional do Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional (COFFITO) após a declaração de pandemia pela OMS, garantindo respaldo legal para serviços de teleconsulta, teleconsultoria e telemonitoramento.
A AR é uma doença autoimune que pode levar à incapacidade. Embora ainda existam poucos estudos específicos sobre o Pilates no tratamento da AR, evidências recentes sugerem que o método Pilates é uma modalidade de fisioterapia útil para a melhora da dor, da resistência muscular e da qualidade de vida de pacientes com dores crônicas.
Para viabilizar a prática remota, o protocolo presencial foi readequado para prática doméstica com baixos custos: exercícios em pé com baixo risco de queda, substituição da bola suíça por uma cadeira, garrafas PET de 600ml foram usadas no lugar das faixas elásticas. As aulas aconteceram duas vezes por semana, com 1 hora cada. Em sala, um instrutor demonstrava e quatro estudantes monitoravam postura e execução, oferecendo correções em tempo real.
Antes e após cada etapa, as participantes passaram por avaliações via videoconferência, que incluíram histórico da doença, hábitos de vida, uso de medicamentos, prática de atividade física e instrumentos padronizados. Além das aulas, a equipe criou um grupo de WhatsApp para feedback, envio de materiais educativos a cada semana e monitoramento dos sintomas. Dois e-books foram desenvolvidos e distribuídos aos pacientes para fins didáticos: um com orientações para teleconsulta e outro com o protocolo de exercícios ilustrado.
No total, 162 mulheres iniciaram o projeto; 35 desistiram ao longo do processo. Entre as dificuldades relatadas estão problemas com equipamentos (como uso do celular e falta de acesso à internet), ambiente doméstico inadequado e dificuldade de compreensão dos exercícios. Como benefício, o teleatendimento ampliou o acesso, permitindo a participação de mulheres de outras cidades e estados e reduzindo barreiras de deslocamento e dependência de transporte público.
O estudo conclui que a tele-reabilitação não só manteve um nível mínimo de atividade física necessário para preservar a funcionalidade das pacientes, como também mostrou potencial para aumentar a acessibilidade a serviços de reabilitação. Apesar do maior distanciamento físico e o enfraquecimento de vínculos que existiam no atendimento presencial, a equipe do projeto buscou aplicar estratégias de comunicação e monitoramento contínuo para a manutenção do interesse nas aulas. Para os autores, a migração para o teleatendimento garantiu a continuidade do cuidado em um momento crítico, reduzindo risco de agravo nas pacientes e ampliando o alcance do projeto, embora exija estratégias extras de suporte e inclusão digital.
*Estagiário sob supervisão de Paola Primo