A ASSOCIAÇÃO DE CATADORES DE MATERIAIS RECICLÁVEIS COMO ESPAÇO DE SUBVERSÃO AO RACISMO
COMO A PSICOLOGIA PODE CONTRIBUIR?
Palavras-chave:
Relações Étnico-raciais, associação de reciclados, relato de experiênciaResumo
Este trabalho refere-se a um relato de experiência oportunizada na Associação Vila Velhense de Coletores e Coletoras de Materiais Recicláveis (REVIVE). Em um mercado de trabalho que produz a exclusão, predominantemente a povos negros, tradicionalmente surgiram trabalhos informais, como inicialmente era o dos catadores de materiais recicláveis. Para lidar com esse mercado, foram organizadas associações e cooperativas com gestão própria dos catadores, como é o caso da REVIVE. A partir de intervenções produzidas durante a realização de oficinas vivenciais com o grupo de associados e diálogos em outros espaços da associação, foram produzidas as reflexões aqui expostas. De todas as possibilidades de construção do relato, priorizou-se a própria condição da cor de pele que pareceu influenciar em algumas das questões que surgem dentro e fora dos muros da associação. Questão essa que, ainda é vista como recorte quando mais da metade da população brasileira é negra, bem como, mais da metade dos catadores de reciclados também, segundo alguns estudos. É percebido, deste modo, a REVIVE como um espaço potente para lidar com essa realidade, para ressignificarem a experiência de serem colocados à margem. E coube à atuação neste espaço contribuir na produção de brechas que permitiram a passagem de intensidades, considerando uma atuação que visa transformar essa condição de minoridade em potência minoritária, subverter a lógica do encarceramento do devir.
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