SEM PONTE E SEM BARRACO: A SITUAÇÃO VIVIDA PELOS MORADORES DA “BAIXADA” PERPÉTUO SOCORRO, DE MACAPÁ, ANALISADA COMO DRAMA SOCIAL
Résumé
Este artigo analisa a situação vivida pelos moradores da “Baixada” Perpétuo Socorro, de Macapá/AP,
vítimas de um incêndio em outubro de 2013. “Baixada” é um termo popular para referir-se a áreas de proteção
ambiental, úmidas e alagadas, espécies de mangues, que se localizam nas partes baixas da cidade e que são
utilizadas como moradia por parte da população. Na capital Macapá há 24 áreas de ressaca e 22 destas áreas
são habitadas por migrantes desde o final dos anos 1960, totalizando uma população de mais de 53 mil pessoas
de acordo com o censo de 2000. No censo de 2010 o IBGE não encontrou a localização de 10 destas áreas
porque as mesmas escondem-se pela arquitetura da capital do Amapá. As redes de pessoas que ocupam estes
lugares impróprios para moradia, sem saneamento básico e infraestrutura, construíram pontes e casas sobre a
água, residindo sobre palafitas. Neste artigo apresento como era a “Baixada” Perpétuo Socorro, localizada no bairro
de mesmo nome, um dos mais tradicionais de Macapá, em função de um pequeno porto que leva e traz peixes e
alimentos às populações de ambos os lados do Rio Amazonas, com mais de 8 mil quilômetros de extensão. Na
“Baixada”, até o dia do incêndio que devastou totalmente o lugar, havia uma circulação diária de 2 mil pessoas. O
artigo evidencia também a sequência dos acontecimentos deste dia até os embates posteriores dos moradores com
o governo, na luta por um novo lugar de moradia e pertencimento social; bem como pelo período de instabilidade
até o recebimento das casas ofertadas pelo poder público. A sistematização dos dados é alicerçada no modelo
metodológico e analítico de dramas sociais, uma vez que os eventos ocorridos fizeram emergir conflitos, disputas e,
mais tarde, negociações entre moradores e o governo municipal e estadual.