CARACTERIZAÇÃO DA ASSEMBLEIA DE PEIXES RECIFAIS DO LITORAL SUL DO ESPÍRITO SANTO, BRASIL
Resumo
Os ambientes recifais do estado do Espírito Santo estão localizados em uma região de transição, formada por recifes biogênicos ao norte e recifes rochosos ao sul. Essa característica, associada a questões biogeográficas, confere à região uma rica biodiversidade de peixes recifais. Esta diversidade carece de informações sobre suas assembleias e medidas de conservação por meio de áreas marinhas protegidas (AMP). Assim, a fim de caracterizar a comunidade de peixes recifais do litoral sul do Espírito Santo, bem como entender como essa se relaciona à natureza e complexidade do substrato e dos bentos associados a ele, foram realizados 251 censos visuais subaquáticos (20 x 2 m) e 42 transectos de fotoquadrats em cinco habitats (recifes biogênicos, recifes rochosos, rodolitos com algas, rodolitos com areia e rodolitos com invertebrados). Foram registrados 14614 indivíduos de 109 espécies de peixes pertencentes a 43 famílias. As cinco espécies mais abundantes foram Haemulon aurolineatum, Haemulon atlanticus, Harengula clupeola, Stegastes fuscus e Halichoeres poeyi, que juntos representaram cerca de 46% dos indivíduos avistados. A média (± EP) do número de espécies, da abundância e da biomassa por censo foi, respectivamente: 7,73 (± 0,27) spp/40m², 58,22 (± 6,06) ind./40m² e 5,11 (± 0,88) kg/40m². Quanto a abundância das guildas tróficas, os comedores de invertebrados móveis representaram 58,42% (38 espécies) dos peixes amostrados, seguidos por planctívoros, 12,72% (11 espécies), herbívoros itinerantes, 12,15% (10 espécies), herbívoros territoriais, 8,35% (quatro espécies), carnívoros, 3,18% (18 espécies), onívoros, 3,05% (15 espécies), comedores de invertebrados sésseis, 1,23% (sete espécies) e piscívoros, 0,88% (seis espécies). A estrutura trófica da comunidade difere (Pseudo-F = 9,188; P-permanova < 0,001) entre os habitats analisados. Entre os três níveis de complexidade do substrato (baixa, média e alta), a abundância, biomassa e riqueza foram significativamente maiores (Kruskal-Wallis, p-valor < 0,0001) nos ambientes de maior complexidade, confirmando um padrão comumente encontrado nos recifes. A composição dos bentos também influencia a assembleia de peixes recifais, sendo que os herbívoros territoriais e itinerantes tiveram suas biomassas e abundâncias positivamente relacionadas à presença de algas e negativamente à presença de substrato inconsolidado. Dessa forma, evidencia-se a necessidade da utilização de dados ecológicos na gestão e proteção dos ambientes recifais do Espírito Santo, visto que esses são ocupados e utilizados de formas diferentes pela biodiversidade marinha.