Memória corporal, regressão e repetição
as formulações de Sándor Ferenczi sobre o trauma a partir de sua experiência na Primeira Guerra Mundial
DOI:
https://doi.org/10.47456/sofia.v14i1.47815Palavras-chave:
psicanálise, neuroses de guerra, neuroses traumáticas, trauma, FerencziResumo
Recebidas controversamente na década de 1930, as hipóteses de Sándor Ferenczi sobre o trauma vêm sendo reconhecidas na psicanálise contemporânea, devido ao seu valor clínico. Contudo, ao analisar trabalhos anteriores desse autor, é possível identificar uma teorização mais ampla sobre o trauma. Neles, Ferenczi pauta-se em sua experiência como médico na Primeira Guerra Mundial para discutir as consequências de uma invasão excessiva de estímulos no aparelho psíquico, como os efeitos do desligamento da consciência no momento do trauma, os danos causados à onipotência e a repetição do trauma em menor escala como forma de alcançar o reequilíbrio psíquico. O objetivo desse artigo é analisar as hipóteses sobre o trauma que Ferenczi elabora nesse momento e mostrar que elas possuem repercussões metapsicológicas, ainda pouco estudadas, que podem auxiliar a compreensão do funcionamento psíquico e contribuir para uma visão mais acurada do seu pensamento e de seu papel na história da psicanálise.
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