Serviço Social e gestão democrática
Resumo
O presente trabalho refere-se a uma proposta de pesquisa cujo objetivo consiste na análise da administração pública, a partir da compreensão de gestão democrática, numa perspectiva crítico dialética, buscando identificar estratégias de intervenção profissional que possam favorecer ou enfraquecer essa forma de gestão. O lócus de investigação é a Secretaria de Estado de Educação (SEEDUC) do Rio de Janeiro, mais especificamente suas Coordenações Regionais de Gestão de Pessoas (CRGPs).
Buscamos, com essa pesquisa, compreender os fundamentos da gestão/administração, bem como seu desenvolvimento histórico, no bojo da sociedade de classes – considerando de que maneira os interesses da classe hegemônica impactam as estratégias de gestão, sobretudo na esfera estatal. Para além da análise das tendências gerais da administração, buscamos caracterizar as particularidades do desenvolvimento da administração pública brasileira – com ênfase nos impactos da contra-reforma do Estado.
O desafio aqui identificado é o de buscar alternativas, no interior da administração pública, contextualizada no modo de produção capitalista, que possam potencializar a organização estatal e administrativa no sentido da universalização dos direitos, no contraponto da finalidade do sistema capitalista de viabilizar a manutenção da dominação de classes através da garantia de uma ordem social, política, jurídica e cultural voltada para a exploração.
O contexto mais ou menos favorável à implementação de uma forma de gestão que se pretenda democrática é, em certa medida, delineado pelas características do espaço ocupacional, do tipo de organização e do projeto político orientador de tal organização. De forma que o determinante é identificar movimentos que tensionem a ordem estabelecida, tendo como norte a democratização da sociedade.
Compreendemos que, não obstante o fato da administração/gestão estar diretamente associada ao modo de produção vigente – no que tange às suas finalidades e racionalidades -, consiste em uma área de necessária discussão, sobretudo tendo como perspectiva de análise a teoria materialista dialética, com vistas a revelar as conexões entre fins e meios. Para isso, é fundamental ultrapassar os limites instrumentais da administração, analisando suas finalidades, através de um viés emancipatório.
Consideramos ser imprescindível, na construção da gestão contra-hegemonica, um profissional que, para além do conhecimento referente às técnicas gerenciais, seja capaz de atuar na fronteira entre o saber técnico e a política. Que tenha capacidade de reconhecer no movimento da realidade, os determinantes que expressam os interesses – antagônicos e inconciliáveis – de classes.
Neste sentido, partimos aqui do entendimento de que o Assistente Social, ao atuar nas diversas manifestações da “questão social”, expressas na vida dos sujeitos sociais de maneiras particulares – mediadas por disparidades de gênero, etnia, raça, etc. – e enraizadas na contraposição entre a produção social e a apropriação privada do trabalho e do produto do trabalho, conta com grande acúmulo para atuar – de diferentes formas – no campo da gestão.
Apesar de historicamente estes profissionais ocuparem espaço privilegiado na execução das políticas sociais, na atuação direta com a população usuária, atualmente novas demandas estão sendo colocadas à categoria, que vem sendo cada vez mais chamada a formular e a gerir políticas. Identificamos, a partir desses apontamentos, grande potencial de contribuição da categoria na gestão pública, seja ocupando os cargos de gestão em si, seja assessorando os gestores, no sentido de auxiliar na identificação e no fortalecimento das estratégias que tensionem as contradições dos contextos organizacionais para impulsionar e estimular dinâmicas que possam contribuir para o processo de democratização.