A virada neoliberal na saúde: Atenção Primária e as clínicas médicas populares na periferia de São Paulo

Autores

DOI:

https://doi.org/10.47456/geo.v2i35.39230

Palavras-chave:

crise sanitária, saúde pública, neoliberalismo, periferia

Resumo

Este artigo tem como objetivo compreender a expansão do segmento público e privado de saúde para a gestão da população de territórios periféricos da da cidade de São Paulo (Zona Sul e Zona Leste). Esta gestão é baseada nas margens do Estado periférico capitalista, vendo a crise sanitária, a partir de 2020, como acentuação dos elementos genéricos presentemente em ação num contexto de individualização das políticas sociais, revestindo-se, então, de um caráter social e estrutural. Além dos usuários entrevistados, participaram da pesquisa, dirigentes sociais e agentes do programa de atenção primária de saúde, Estratégia Saúde da Família (ESF). Assim, procura-se privilegiar a ascensão de uma triagem sistêmica, caracterizada por políticas neoliberais e uma tecnocracia em saúde que há muito negligencia a saúde pública. A crise do SARS-CoV-2 é, portanto, muito mais do que uma crise de saúde – por meio de diferentes ações e projetos governamentais, organizações e instituições sociais e mercado – mantém, pois, um vínculo estreito com a questão do acesso às clínicas médicas populares.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Ricardo de Lima Jurca, Universidade de São Paulo

Autor é brasileiro, sociólogo, Mestre em Ciências Sociais, Universidade Federal de São Paulo. Doutor em Ciências, Faculdade de Saúde Pública, Universidade de São Paulo (USP). Pós-doutor, Instituto de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo (USP). Professor da rede pública do Estado de São Paulo.

Referências

AROUCA, S. O dilema preventivista: contribuição para a compreensão e crítica da medicina preventiva. São Paulo: Editora UNESP; Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ, 2003.

BELORGEY, Nicolas., L’hôpital sous pression. Enquête sur le « nouveau management public », La découverte, Paris, 2010.

BOURDIEU, Pierre. La misère du monde. Éditions du Seuil, 1993.

BRAGA, José. C; DE PAULA, Sérgio. G. “Capitalismo e Pensamento econômico: a questão da saúde”. In: BRAGA, José. C.; DE PAULA, Sérgio. G. Saúde e previdência: estudos de política social. São Paulo: Cebes: Hucitec, 1981, pp. 1-38.

CASTEL, Robert. As metamorfoses da questão social: uma crônica do salário. Petrópolis, RJ: Vozes, 2010.

COHN, Amélia. “Desigualdade, Desenvolvimento Social e Políticas Sociais no Brasil”. Cadernos Cedec, 57, pp. 1-43, 1996.

DARDOT, Pierre; LAVAL, C. A nova razão do mundo: Ensaio sobre a sociedade neoliberal. Tradução Mariana Echalar. São Paulo: Boitempo, 2016.

DAS, Venna; POOLE, Deborah. “Anthropology in the margins of the state”, Santa Fé, School of American Research Press, 2004, pp. 225-252.

ESCOREL, Sarah; BLOCH, Renata Arruda. As Conferências Nacionais de Saúde na Construção do SUS. In LIMA, Nísia Trindade (org.), Saúde e Democracia: história e perspectiva do SUS. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2005.

FASSIN, Didier. Les Mondes de la Santé Publiques. Excursions anthropologiques. Cours au collège de France 2021-2021. Éditions du Seuil, 2021.

FOUCAULT, Michel. Nascimento da biopolítica. Curso no collège de France (1978-1979). Tradução Eduardo Brandão. São Paulo, Brasil: Martins Fontes, 2008.

GAUDILLIÈRE. Jean-Paul; IZAMBERT, Caroline; JUVEN, Pierre-André. Pandémopolitique. Réinventer la santé en commun. La Découverte, 2020.

GEORGES, Isabel. P. H; SANTOS, Y. G. As ‘novas’ políticas sociais brasileiras na saúde e na assistência: Produção local do serviço e relações de gênero. Belo Horizonte, Brasil: Fino Traço. 2016.

GEORGES, Isabel Pauline Hildegard; SANTOS, Iummi. Garcia. A produção da “demanda”: viés institucional e implicações políticas da terceirização do trabalho social na periferia de São Paulo. In:. Sobre periferias: Novos conflitos no Brasil contemporâneo. Org. CUNHA, N. V.; FELTRAN, G. S. Rio de Janeiro: Lamparina & FAPERJ, 2013.

GIS. Médecine et lutte de classes. Michael Foucault et les membres du G.I.S. La NEF, n.49, 1976.

GUEDES, F; CAMPOS, GWS; TERRA, L; VIANA,MO (orgs.) Nas entranhas da atenção primária à saúde: formação e prática. Ed Hucitec, 327p, 2021.

HARVEY, David. Spaces of global capitalism: towards a theory of uneven geographical development. New York, Verso, 2006.

IANNI, Aurea. et al. “Pensamiento social en salud: un análisis crítico de las obras clásicas del campo de la Salud Pública en Brasil”. Rev. Guillermo de Ockham, 15(2), In press, pp. 107-117, 2017.

JURCA, Ricardo. L. Individualização social, assistência médica privada e consumo na periferia de São Paulo. 2018. 225p. Tese (Doutorado em Saúde Pública). Programa de Pós-Graduação em Saúde Pública da Universidade de São Paulo.

LAUTIER, Bruno. “Las políticas sociales en América Latina: propuestas metodológicas para analizar el cambio que se está produciendo”. Espiral, vol. VII, núm. 22, pp. 91-130, 2001.

LAVINAS, Lena. “A financeirização da política social: o caso brasileiro”. Forthcoming at Politika, n. 2, pp. 35-51, 2015.

LAVINAS, Lena. The Takeover of Social Policy by Financialization: The Brazilian Paradox. Nova York: Palgrave Macmillan, 2017.

LOTTA, Gabriela. Estilos de implementação: ampliando o olhar para a análise de políticas públicas. Comunicação oral, ENAPG ENCONTRO NACIONAL DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E GOVERNO. 2008

MARCUS, G. E. Multi-sited Ethnography: Five or Six Things I Know About It Now. In: COLEMAN, Simon., & HELLERMANN, Von. (eds.) Multi-Sited Ethnography: Problems and Possibilities in the Translocation of Research Methods. New York and Abingdon: Routledge. 2011. pp. 26-53.

MARTUCCELLI, Danilo. Cambio de rumbo: La sociedad a escala del individuo. Santiago, Chile: LOM Ediciones. 2007.

MENDES, Áquilas N. et al. “A contribuição do pensamento da saúde coletiva à economia política da saúde”. Saúde Soc. São Paulo, v.26, n.4, pp.841-860, 2017

MINISTÉRIO DA SAÚDE. Secretária Executiva. Programa Agentes Comunitários de Saúde. Brasília-DF. 2001.

MINISTÉRIO DA SAÚDE. As Cartas de Promoção da Saúde. Brasília: Ministério da Saúde, Secretaria de Políticas de Saúde. 2002.

MENDES-GONÇALVES, R. B. Tecnologia e organização social das práticas de saúde: características tecnológicas do processo de trabalho da rede estadual de Centros de Saúde de São Paulo. São Paulo. Doutorado Faculdade de Medicina da USP, 416 p., 1986.

NEDEL, M. Z; JURCA, R. de L; RIZEK, C. S; BUZZAR, M. A. (2021). Direitos sociais à margem: um debate sobre educação pública e políticas de saúde em dois estudos de caso de Saint-Denis: Um debate sobre educação pública e políticas de saúde em dois estudos de caso de Saint-Denis. Revista Risco de Pesquisa em Arquitetura e Urbanismo (Online), 19, 1-17. https://doi.org/10.11606/1984-4506.risco.2021.182394

OLIVEIRA, Jaime. A; TEIXEIRA, Sônia. M. F. (Im)previdência social: 60 anos de história da Previdência Social no Brasil. Petrópolis: Vozes: Abrasco. 1986.

OLIVEIRA, Jaime. A. “Reformas e reformismo: “democracia progressiva” e políticas sociais (ou ‘Para uma teoria política da Reforma Sanitária’)”. Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 4, n. 3, pp. 360-387, 1987

OLIVEIRA, Francisco. Crítica à razão dualista: o ornitorrinco. São Paulo: Boitempo, 2013.

OLIVEIRA, Francisco. Brasil: Uma biografia não autorizada. São Paulo, Brasil: Boitempo, 2018.

PAIM, Jairnilson Silva. Reforma sanitária brasileira: contribuição para a compreensão e crítica. Salvador:EDUFBA; Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2008. 355 p

PAOLI, Maria. C. “O mundo do indistinto: sobre gestão, violência e política”. In: OLIVEIRA, Francisco; RIZEK, Cibele. S. (Orgs.) A era da indeterminação. São Paulo: Boitempo, 2007, pp. 221-256.

JUVEN, Pierre-André; PIERRY, Frédéric; VICENT. Fanny. La casse du siècle. A propos des réformes de l’hôpital public, Paris, raisons d’Agir, 2019.

RIZEK, Cibele. S. “Verde amarelo azul e branco: o fetiche de uma mercadoria ou seu segredo”. In: OLIVEIRA, Francisco, Braga, Ruy, Rizek, Cibele. S. (Orgs.). Hegemonia às avessas. São Paulo, Boitempo Editorial, 2010. pp. 215-236.

RIZEK, Cibele. S. “Trabalho, moradia e cidade: Zonas de indiferenciação?”. Revista Brasileira de Ciências Sociais, 27 (78), pp. 41-49, 2012.

RIZEK, Cibele. S. “Políticas Sociais e Políticas de Cultura: territórios e privatizações cruzadas”. Revista Brasileira de Estudos Urbanos e Regionais, Recife, v. 15, pp. 199-209, 2013.

RIZEK, Cibele. S. “Faces do lulismo: Políticas de cultura e cotidiano na periferia de São Paulo”. In; SINGER, André, LOUREIRO, I. (Orgs.) As contradições do lulismo: A que ponto chegamos?, São Paulo, Brasil: Boitempo. 2016. pp. 185-219.

SAUVÊTRE, P ; LAVAL, C ; GUÉGUEN, H ; DARDOT, P. A escolha da gurrra civil: uma outra história do neoliberalismo. São Paulo: Elefante, 2021.

SESTELO, José. A. F. et al. “A financeirização das políticas sociais e da saúde no Brasil do século XXI: elementos para uma aproximação inicial”. Economia e Sociedade, Campinas, v. 26, Número Especial, pp. 1097-1126, 2017.

VIANA, Ana. L., MIRANDA, Alcides. S; SILVA, Hudson. P. “Segmentos institucionais de gestão em saúde: descrição, tendências e cenários prospectivos”. Texto para discussão nº 2: Saúde Amanhã, Fundação Oswaldo Cruz: Rio de Janeiro, pp. 7-18, 2015.

VIGNERON, Emmanuel. L’Hôpital et le territoire. De la coordination aux GHT: une histoire pour le temps présent, SPH Éditions, 2017.

TEIXEIRA, Sônia F. “Reflexões teóricas sobre democracia e Reforma Sanitária”. In. Teixeira, Sônia. F. (Org.). Reforma sanitária: em busca de uma teoria. São Paulo: Cortez, 1989. pp. 17-45.

TEIXEIRA, S. F. (Org.). Estado y politicas sociales en América Latina. México, DF: UAM, pp. 293-311. 1992.

Downloads

Publicado

01-12-2022

Como Citar

RICARDO DE LIMA JURCA. A virada neoliberal na saúde: Atenção Primária e as clínicas médicas populares na periferia de São Paulo. Geografares, Vitória, Brasil, v. 2, n. 35, p. 61–90, 2022. DOI: 10.47456/geo.v2i35.39230. Disponível em: https://periodicos.ufes.br/geografares/article/view/39230. Acesso em: 5 jul. 2024.

Edição

Seção

Dossiê Territórios urbanos e estratégias do neoliberalismo