A virada neoliberal na saúde: Atenção Primária e as clínicas médicas populares na periferia de São Paulo

Autores

DOI:

https://doi.org/10.47456/geo.v2i35.39230

Palavras-chave:

crise sanitária, saúde pública, neoliberalismo, periferia

Resumo

Este artigo tem como objetivo compreender a expansão do segmento público e privado de saúde para a gestão da população de territórios periféricos da da cidade de São Paulo (Zona Sul e Zona Leste). Esta gestão é baseada nas margens do Estado periférico capitalista, vendo a crise sanitária, a partir de 2020, como acentuação dos elementos genéricos presentemente em ação num contexto de individualização das políticas sociais, revestindo-se, então, de um caráter social e estrutural. Além dos usuários entrevistados, participaram da pesquisa, dirigentes sociais e agentes do programa de atenção primária de saúde, Estratégia Saúde da Família (ESF). Assim, procura-se privilegiar a ascensão de uma triagem sistêmica, caracterizada por políticas neoliberais e uma tecnocracia em saúde que há muito negligencia a saúde pública. A crise do SARS-CoV-2 é, portanto, muito mais do que uma crise de saúde – por meio de diferentes ações e projetos governamentais, organizações e instituições sociais e mercado – mantém, pois, um vínculo estreito com a questão do acesso às clínicas médicas populares.

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Biografia do Autor

Ricardo de Lima Jurca, Universidade de São Paulo

Autor é brasileiro, sociólogo, Mestre em Ciências Sociais, Universidade Federal de São Paulo. Doutor em Ciências, Faculdade de Saúde Pública, Universidade de São Paulo (USP). Pós-doutor, Instituto de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo (USP). Professor da rede pública do Estado de São Paulo.

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Publicado

01-12-2022

Como Citar

RICARDO DE LIMA JURCA. A virada neoliberal na saúde: Atenção Primária e as clínicas médicas populares na periferia de São Paulo. Geografares, Vitória, Brasil, v. 2, n. 35, p. 61–90, 2022. DOI: 10.47456/geo.v2i35.39230. Disponível em: https://periodicos.ufes.br/geografares/article/view/39230. Acesso em: 18 dez. 2024.

Edição

Seção

Dossiê Territórios urbanos e estratégias do neoliberalismo