Artigo demonstra possibilidades de consumo de plantas incomuns

03-07-2025

Por Otávio Gomes*

 

Fonte: Reprodução - Instagram/@panccult.ufes

O estudo descritivo “Cultivando saberes e sabores das Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANC) como instrumento de ensino-aprendizagem  sobre  a  biodiversidade e seu uso sustentável na alimentação” relata e avalia as atividades desenvolvidas pelo projeto de extensão PANCCult entre janeiro 2021 e novembro de 2024. O artigo foi publicado na edição nº. 18 da Revista Guará, periódico científico editado pela Pró-Reitoria de Extensão (ProEx) da Ufes. Nesta edição da revista foram abordadas ações de extensão relacionadas à valorização de saberes tradicionais, fortalecimento de práticas sustentáveis e divulgação científica pela internet. 

No artigo são apresentadas ações educativas para o  estímulo  ao  cultivo, consumo  e  divulgação das chamadas PANC: vegetais incomuns, mas que podem ser consumidos por humanos. Segundo os autores do artigo, apesar do Brasil possuir uma das maiores biodiversidades do mundo, 90% da alimentação no país é composta por somente 15 espécies de plantas. Essa cultura alimentícia acaba por negligenciar diversos grupos alimentares, entre eles as PANC, que contempla raízes, tubérculos, folhas, brotos, frutos, sementes, entre outros elementos comestíveis de plantas e vegetais. “A industrialização dos hábitos alimentares e a padronização do consumo baseado em produtos amplamente comercializados fez com que as PANC caíssem no esquecimento”, comenta Daniel Uliana, aluno participante do projeto e um dos autores do artigo.

As PANC podem ser nativas ou originárias de outro país, cultivadas pelo ser humano ou geradas espontaneamente pela natureza. Atualmente, o plantio desse grupo alimentar acontece majoritariamente em propriedades rurais familiares, o que contribui para a sua baixa difusão, especialmente em ambientes urbanos. “Uma das maneiras de reverter essa subutilização é através da disseminação de informações sobre seu uso, valor nutricional e importância para a sustentabilidade. Esse é um dos principais objetivos do projeto”, completa Daniel.

Para Daniel, a inserção das PANC na dieta pode promover uma cultura alimentar mais diversa e permitir a produção de alimentos de forma mais sustentável, pois seu  cultivo  respeita  a  biodiversidade  de  espécies e as características de cada ambiente. “Muitas das PANC são nativas, adaptadas ao clima e ao solo locais, exigindo menos recursos como água, fertilizantes e defensivos agrícolas, o que reduz o impacto ambiental da produção”, defendeu o estudante.

O projeto é desenvolvido por alunos de diversos cursos da área da Saúde, sob coordenação de Jackline Freitas Brilhante de São José, professora do curso de Nutrição da Ufes. As primeiras ações do projeto ocorreram em 2020, por meio do perfil do projeto no Instagram (@panccult.ufes), com a veiculação de informações sobre as PANC em postagens e vídeos informativos. Após a volta das atividades presenciais na Universidade, os extensionistas engajaram-se na organização e participação de eventos para a difusão de conhecimento científico acerca das plantas, além da criação e divulgação de receitas culinárias com PANC facilmente encontradas nas feiras da Grande Vitória – como peixinho-da-horta, ora-pro-nóbis e taioba – por meio do perfil oficial do projeto na rede social. Segundo Daniel, o sucesso das receitas nas redes do projeto é um indicativo que as PANC podem ser uma opção saborosa e saudável na mesa da brasileiro.“O bolinho de almeirão roxo é a receita que fez mais sucesso no nosso instagram, atingindo 3,4 mil visualizações, seguido da panqueca de ora-pro-nóbis, com 2,6 mil. Mas, na minha opinião, a mais gostosa é a empada de taioba. Já o bolo de ora-pro-nóbis e o suco de laranja com azedinha fazem muito sucesso nos nossos eventos, todos querem experimentar e aprender a fazer para replicar em casa”, destaca.

O artigo enfatiza que o projeto é um exemplo de sucesso do uso das mídias sociais como ferramenta de acesso pelo público externo à informação e conhecimento científico produzido nas ações de extensão da Ufes. “O nosso projeto combina conhecimentos científicos, populares e tradicionais para disseminar os benefícios e a aplicação das PANC para diferentes públicos, de variadas faixas etárias e realidades socioeconômicas. As redes sociais são uma ferramenta de comunicação excelente para ampliar o alcance do conteúdo científico e democratizar o acesso à informação”, conclui Daniel.

*Estagiário sob supervisão de Paola Primo