Narrativas sobre a experiência com a Doença de Gaucher tipo 1
DOI:
https://doi.org/10.47456/rbps.v22i4.25231Palavras-chave:
Doença de Gaucher, Doença Crônica, Doenças raras, Pesquisa Qualitativa, Medicina NarrativaResumo
Introdução: A Doença de Gaucher é rara, crônica e de origem genética, e caracteriza-se pela deficiência da enzima glucocerebrosidase no organismo. Ela acarreta problemas hematológicos, viscerais e ósseos a seus portadores, cujas experiências com esse adoecimento são muito pouco exploradas pela literatura científica. Objetivo: Apresentar e analisar alguns aspectos da experiência com a Doença de Gaucher tipo 1 através das narrativas dos adoecidos. Método: 9 pessoas com Doença de Gaucher tipo 1 foram contatadas pela técnica da bola de neve e entrevistadas com base em um roteiro semiestruturado em suas residências, em cidades da região de Campinas (SP). As respostas dos entrevistados deram origem a narrativas breves, cujo conteúdo foi submetido à Análise Temática. Resultados: Observou-se que há diversas percepções sobre a Doença de Gaucher, e sobre o tratamento de reposição enzimática, que ora figura compreendido como sendo quase inofensivo (como um “detergente”, ou um “não remédio”), ora como sendo muito potente, e capaz de afetar mais o organismo do que a própria doença. Embora os adoecidos cumprissem com regularidade o tratamento, essa prática não se configurava exatamente como “adesão” (“adherence”), mas como uma atitude de “obediência” (“compliance”) ao conhecimento biomédico. Conclusão: A dificuldade em compreender as informações científicas sobre a Doença de Gaucher, que são altamente complexas e distintas das informações relativas a outros adoecimentos mais prevalentes, faz com que a experiência com esse adoecimento seja marcada por reinterpretações constantes das informações biomédicas, e pela dificuldade em desenvolver posturas mais autônomas e esclarecidas sobre a doença e seus tratamentos.
Downloads
Referências
Grabowski GA. Phenotype, diagnosis, and treatment of Gaucher’s disease. Lancet 2008 Oct 4 ;372(9645):1263-71. Disponível em: < https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/19094956?tool=bestparactice.bmj.com >Acesso em 14.05.2019.
Brasil. Ministério da Saúde. Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas:
Doença de Gaucher. Portaria SAS/MS nº 1.266, de 14 de novembro de 2014.
Disponível em: <http://conitec.gov.br/images/DoencaGaucher.pdf> Acesso em
05.2019.
Nalysnyk, L., et alli. Gaucher disease epidemiology and natural history: a
comprehensive review of the literature. 2017 Mar; 22(2):65-73. Disponível em:
<https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/27762169 >Acesso em 14.05.2019.
Diaz GA et alli. Gaucher disease: the origins of the Ashkenazi Jewish N370S and 84GG acid beta-glucosidase mutations. Am J Hum Genet 2000 Jun; 66(6):1821-32. Disponível em: < https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/10777718 > Acesso em 14.05.2019.
Ferreira, C. S., et al. Doença de Gaucher: uma desordem subdiagnosticada. Rev. paul. Pediatr 2011 Mar; 29( 1 ): 122-125. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-05822011000100019&lng=pt. http://dx.doi.org/10.1590/S0103-05822011000100019> Acesso em 14.05.2019.
Hydén, L.-C. Illness and narrative. Sociology of Health & Illness 1997 ; 19: 48–69. Disponível em: <http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/j.1467-9566.1997.tb00015.x/abstract doi:10.1111/j.1467-9566.1997.tb00015.x>Acesso em 14.05.2019.
Kleinman A. The illness narratives. Suffering, healing and the human condition . Nova York: Basic Book; 1988.
Castellanos, M. E. P. The narrative in qualitative research in health. Ciênc. saúde coletiva 2014 Apr; 19( 4 ): 1065-1076. Disponível em: http://www.scielosp.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S141381232014000401065&lng=en. Acesso em 14.05.2019.
Onocko-Campos R. T., Furtado J. P. Narrativas: utilização na pesquisa qualitativa em saúde. Rev. Saúde Pública 2008 Dec ; 42( 6 ): 1090-1096. Disponível em: < http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S003489102008000600016&lng=en. >Acesso em 14.05.2019.
Bury, M. Chronic Illness as a biographic disruption. Sociology of Health and Illness
; 4 (2): 167-182. Disponível em:
<https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/10260456>Acesso em 14.05.2019.
Minayo, M.C.S. O desafio do Conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. São Paulo: Hucitec, Abrasco; 1996.
Schütz, A. Fenomenologia del mundo social: introdución a lasociología compreensiva.
Buenos Aires: Editorial Paidos; 1979.
T.,C. (Tese). Narrativas sobre a experiência com a Doença de Gaucher. Faculdade de Ciências Médicas/Unicamp, Campinas. 2017.
Vinuto, J. A amostragem em bola de neve na pesquisa qualitativa: um debate em aberto. Revista Temáticas 2014; 44. Disponível em: <https://www.ifch.unicamp.br/ojs/index.php/tematicas/article/view/2144>Acesso em 14.05.2019.
Mishler, E. Research interviewing: context and narrative. Cambridge: Harvard University Press; 1986.
Bardin, L. Análise de Conteúdo. Lisboa: Edições 70 LDA; 2009.
Luz E. L.,Bastos M. L.The opinion of patients with COPD:the process of becoming chronically sick. Ciênc. saúde coletiva 2013 Aug;18(8):2221-2228. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S141381232013000800006&.>Acesso em 14.05.2019.
Helman, C.G. Cultura, saúde e doença. Porto Alegre:Artmed;2003.
Fleischer,S.O ‘cansaço’ como categoria norteadora das experiências de adoecidos pulmonares.Saude soc. 2015 Dez;24( 4 ): 1332-1348. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S010412902015000401332&lg=pt. >Acesso em 14.05.2019.
Conrad, P., Barker, K. A construção social da doença: insights-chave e implicações para políticas de saúde. Idéias- Revista do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da UNICAMP 2011; 2 (2). Disponível em: < https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/ideias/article/view/8649322> Acesso em 14.05.2019.
Petroianu Andy. Cirurgias conservadoras do baço para tratamento da Doença de Gaucher. Rev. Bras. Hematol. Hemoter2004 Mar ; 26( 1 ): 13-18. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S151684842004000100003&lng=pt. http://dx.doi.org/10.1590/S1516-84842004000100003.>Acesso em 14.05.2019.
Van der Geest,S.; Whyte,S.; Hardon,A.The
Anthropology of Pharmaceuticals:A Biographical Approach. Annual Review of
Anthropology1996; (25): 153-178.Disponível em: <http://www.sjaakvandergeest.socsci.uva.nl/pdf/medicines/ARA.pdf> Acesso em 14.05.2019.
Laplantine, F.Antropologia da Doença.SãoPaulo:Martins Fontes;1991.
Castro, R.Antropologia dos medicamentos:uma revisão teórico metodológica. Revista de Antropologia Social dos Alunos do PPGAS-UFSCar 2012; 1(4):146-175.Disponível em: <http://www.rau.ufscar.br/wpcontent/uploads/2015/05/vol4no1_09.ROSANACASTRO.pdf>Acesso em 14.05.2019.
Douglas, M. Pureza e Perigo. São Paulo:Perspectiva;1966.
Minayo M. C. S.Saúde-doença: uma concepção popular da etiologia. Cad. Saúde Pública 1988 Dec; 4 (4):363-381. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102311X1988000400003&lng=en. >Acesso em 14.05.2019.
Sabala, J. (Dissertação). Incerteza, Estratégias e Construção do Self nas Doenças Raras. Instituto Universitário de Lisboa, Lisboa. 2011.
Freedman, R. et alli. Receiving enzyme replacement therapy for a lysosomal storage disorder: a preliminary exploration of the experiences of young patients and their families. J GenetCouns 2013 Aug; 22(4):517-32. Disponível em: <https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/23536258> Acesso em 14.05.2019.
Barbosa, R. Para uma nova perspectiva sobre o campo das doenças raras: a motivação das associações civis em debate. Tempus: Acta de Saúde Coletiva (Brasília) 2015:9(2):57-74. Disponível em: <http://www.tempusactas.unb.br/index.php/tempus/article/view/1578>Acesso em 14.05.2019.
Barbosa R. A pessoa com o diagnóstico de uma condição genética como informante-chave do campo das doenças raras: uma perspectiva pela sociologia do diagnóstico. Ciênc Saúde Coletiva [Internet]. 2019 [acesso em 02 dez 2020]; 24(10):3627-36. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-81232019001003627&lng=pt.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2021 Revista Brasileira de Pesquisa em Saúde/Brazilian Journal of Health Research
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-NoDerivatives 4.0 International License.