INCLUSÃO ESCOLAR E FORMAÇÃO CONTINUADA: ENTRE CONCEPÇÕES E PRÁTICAS
Resumo
A inclusão escolar das pessoas com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento, altas habilidades e/ou superdotação, ou seja, dos alunos público-alvo da Educação Especial, tem exigido a reorganização da escola e a mudança das práticas pedagógicas, tendo em vista a adoção da perspectiva inclusiva pelas políticas educacionais no Brasil. A formação continuada crítico-reflexiva de professores emerge, assim, como necessidade e possibilidade para a construção de práticas pedagógicas favorecedoras da aprendizagem de todos. Visa-se, aqui, compreender como a formação continuada e a inclusão escolar têm sido concebidas e implementadas na escola acompanhada. Utiliza-se como metodologia a pesquisa-ação colaborativo-crítica fundamentada na crítica social de Habermas e na colaboração entre pesquisadores e participantes, de Carr e Kemmis. A coleta de dados vale-se dos seguintes instrumentos e estratégias: observação participante, diário de campo, entrevistas semiestruturadas e narrativas dos profissionais. Os dados são analisados por meio de análise de conteúdo, à luz dos pressupostos habermasianos. Recorre-se a estas considerações finais: a) as concepções dos profissionais sobre inclusão, diversidade e diferença remetem-se mais ao conceito de educação inclusiva do que ao conceito de inclusão escolar, fato identificado até mesmo na fala da professora de Educação Especial; b) as concepções de formação continuada desses profissionais são, em sua maioria, de natureza instrumental. Há, porém, indícios de transição para concepções de natureza comunicativa; e c) embora a formação continuada seja uma demanda dos profissionais, a escola não se configura como um espaço-tempo de formação para os docentes. Percebe-se que esse ainda é um grande desafio para a organização escolar.
Palavras-chave: Inclusão escolar. Formação continuada. Práticas pedagógicas.
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