INCLUSÃO ESCOLAR E FORMAÇÃO CONTINUADA: ENTRE CONCEPÇÕES E PRÁTICAS
Abstract
A inclusão escolar das pessoas com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento, altas habilidades e/ou superdotação, ou seja, dos alunos público-alvo da Educação Especial, tem exigido a reorganização da escola e a mudança das práticas pedagógicas, tendo em vista a adoção da perspectiva inclusiva pelas políticas educacionais no Brasil. A formação continuada crítico-reflexiva de professores emerge, assim, como necessidade e possibilidade para a construção de práticas pedagógicas favorecedoras da aprendizagem de todos. Visa-se, aqui, compreender como a formação continuada e a inclusão escolar têm sido concebidas e implementadas na escola acompanhada. Utiliza-se como metodologia a pesquisa-ação colaborativo-crítica fundamentada na crítica social de Habermas e na colaboração entre pesquisadores e participantes, de Carr e Kemmis. A coleta de dados vale-se dos seguintes instrumentos e estratégias: observação participante, diário de campo, entrevistas semiestruturadas e narrativas dos profissionais. Os dados são analisados por meio de análise de conteúdo, à luz dos pressupostos habermasianos. Recorre-se a estas considerações finais: a) as concepções dos profissionais sobre inclusão, diversidade e diferença remetem-se mais ao conceito de educação inclusiva do que ao conceito de inclusão escolar, fato identificado até mesmo na fala da professora de Educação Especial; b) as concepções de formação continuada desses profissionais são, em sua maioria, de natureza instrumental. Há, porém, indícios de transição para concepções de natureza comunicativa; e c) embora a formação continuada seja uma demanda dos profissionais, a escola não se configura como um espaço-tempo de formação para os docentes. Percebe-se que esse ainda é um grande desafio para a organização escolar.
Palavras-chave: Inclusão escolar. Formação continuada. Práticas pedagógicas.
Downloads
References
BRASIL. Ministério da Educação. Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva. Brasília, 2008. Disponível em:
<http://portal.mec.gov.br/arquivos/pdf/politicaeducespecial.pdf >. Acesso em: 12 out. 2010.
BRASIL. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira. Censo Escolar da Educação Básica 2013: resumo técnico. Brasília: 2014. Disponível em: <http://download.inep.gov.br/educacao_basica/censo_escolar/resumos_tecnicos/resumo_tecnico_censo_educacao_basica_2013.pdf>. Acesso em: 4 jun. 2017.
CARR, W.; KEMMIS, S. Teoría crítica de la Enseñanza: la investigación-acción en la formación del profesorado. Tradução de Bravo Martinez Roca. Barcelona: Editora, 1988.
FRANCO, M. A. S. Práticas pedagógicas de ensinar-aprender: por entre resistências e resignações. Educ. Pesqui., São Paulo, v. 41, n. 3, p. 601-614, jul./set. 2015.
GOMES, R. Análise e interpretação de dados de pesquisa qualitativa. In: MINAYO, M. C. S. (Org.). Pesquisa Social: teoria, método e criatividade. 29. ed. Petrópolis: Vozes, 2010. p. 79-108.
HABERMAS, J. Conhecimento e interesse. Tradução de José N. Heck. Rio de Janeiro: Guanabara, 1987.
HABERMAS, J. Teoria do agir comunicativo: Racionalidade da ação e racionalização social. Tradução de Paulo A. Soethe. São Paulo: Martins Fontes, 2012.
JESUS, D. M. et al. Diálogos reflexivos tecidos no 2.º colóquio de políticas de educação especial na perspectiva da inclusão escolar no Estado do Espírito Santo. In: I SEMINÁRIO DE POLÍTICAS PÚBLICAS DE INCLUSÃO ESCOLAR NO RIO GRANDE DO SUL, 1., 2010, Porto Alegre. Anais eletrônicos I Seminário de políticas públicas de inclusão escolar no Rio Grande do Sul. Porto Alegre: FACED/NEPIE/UFRGS, 2010. 1 CD.
JESUS, D. M.; VIEIRA, A. B.; EFFGEN, A. P. S. Pesquisa-Ação Colaborativo-Crítica: em busca de uma epistemologia. Educação & Realidade, Porto Alegre, v. 39, n. 3, p. 771-788, jul./set. 2014.
MAGALHÃES, R. R. B. P. Reflexões sobre a diferença: introdução à educação especial. Fortaleza: Edições Demócrito Rocha, 2003.
MATOS, S. N.; MENDES, E. G. Demandas de professores decorrentes da inclusão escolar. Revista Brasileira de Educação Especial. Marília, v. 21, n. 1, p. 9-22, jan./mar. 2015.
MEIRIEU, P. O cotidiano da escola e da sala de aula: o fazer e o compreender. São Paulo: Artmed, 2005.
MENDES, E. G. Sobre alunos “incluídos” ou da “inclusão”: reflexões sobre o conceito de inclusão escolar. In: VICTOR, S. L.; VIEIRA, A. B.; OLIVEIRA, I. M. (Org.). Educação Especial Inclusiva: conceituações, medicalização e políticas. Campos dos Goytacazes: Brasil Multicultural, 2018. p. 58-81.
PIMENTA, S. G. Professor reflexivo: construindo uma crítica. In: PIMENTA, S. G.; GHEDIN, E. (Org.). Professor reflexivo no Brasil: gênese e crítica de um conceito. 3. ed. São Paulo: Cortez, 2005. p. 17-52.
PATTO, M. H. S. A Produção do fracasso escolar: histórias de submissão e rebeldia. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2015.
SACRISTÁN, J. G. A construção do discurso sobre a diversidade e suas práticas. In: ALCUDIA, R. et al. Atenção à diversidade. Tradução de Daisy Vaz de Moraes. Porto Alegre: Artmed, 2002. p. 13-38.
SKLIAR, C. A inclusão que é “nossa” e a diferença que é do “outro”. In: RODRIGUES, D. (Org.). Inclusão e educação: doze olhares sobre a educação inclusiva. São Paulo: Summus, 2006, p.15-34.
TARDIF, M. Saberes docentes e formação profissional. Petrópolis: Vozes, 2014.
VIEIRA, F. B. A.; MARTINS, L. A. R. Formação e criatividade: elementos implicados na construção de uma escola inclusiva. Revista Brasileira de Educação Especial. Marília, v. 19, n. 2, p. 225-242, abr./jun. 2013.