EDUCAÇÃO DE SURDOS E NEOCONSERVADORISMO NO BRASIL
Résumé
O objetivo deste artigo é discutir a aproximação de políticas neoconservadoras na educação de surdos e seus rebatimentos no campo da Educação Especial. Para tanto, submete-se o caso das políticas brasileiras direcionadas à população surda a uma análise com base na noção foucaultiana de governamento. Parte-se da aposta de que a língua de sinais tem sido utilizada como um instrumento acessível de governamento e que, a partir de um código estúpido (LARROSA, 2004), está atrelada com a ideia de um não-pensamento que não significa ausência de pensamento, mas demonstra uma estrutura denominada de pensamento estúpido, visto que possibilita uma tradução da realidade que alcança sujeitos surdos, proporcionando sua constituição na ordem discursiva contemporânea. Desse modo, destaca-se um conjunto de paisagens mediatizadas envolvendo: ações caritativas à educação de surdos; a precarização do trabalho de tradutores e intérpretes de língua de sinais; e os conflitos linguístico-identitários no âmbito da política nacional de educação especial. Por fim, assume-se uma figura subjetiva da crise, o mediatizado (NEGRI; HARDT, 2014) e argumenta-se que a aproximação da atmosfera neoconservadora à educação de surdos põe em risco processos democráticos na sociedade contemporânea.