Sobre a Revista

Apresentando o XI SEGOC 2021

 

O Seminário de Gestão Organizacional Contemporânea é um evento técnico-científico bienal, aberto à toda comunidade, sediado no PPGAdm/Ufes, que tem por objetivo fomentar diálogos entre comunidade acadêmica e profissionais dos setores público, privado e da sociedade civil, bem como movimentos sociais e pessoas da comunidade em geral. Trata-se de um espaço para debate de assuntos relevantes, para divulgação de pesquisas que vêm sendo realizadas por discentes e docentes, para integração entre graduação, pós-graduação e sociedade. Este ano, por conta das restrições impostas pela Covid-19, o evento será realizado integralmente via plataformas digitais.

 

A cada edição, escolhemos um tema de relevância que funciona como um fio condutor das atividades gerais realizadas no seio do evento, como palestras e mesas redondas. Em 2021, o XI SEGOC terá como tema “A Precarização Contemporânea do Trabalho e seus Impactos na População Negra”, elaborado a partir de reflexões que fizemos a partir do cenário atual de crise (sanitária, econômica, social, etc.) que vem impondo à população condições cada vez mais precárias de trabalho e de vida. Sabemos que, nesse processo, algumas populações encontram-se mais vulnerabilizadas que outras e, no contexto brasileiro, a população negra e quilombola é a maior afetada pela atual crise, como já evidenciado por diversas pesquisas.

 

O tema central deste ano foi fruto de uma reflexão proposta por um dos membros da comissão coordenadora do evento, traçando paralelos entre o Brasil contemporâneo e o Brasil colonial em suas dinâmicas de exploração e relações de trabalho. O engenho banguê dos tempos coloniais, por exemplo, era uma propriedade rural de produção de açúcar formada por vários espaços: a casa dos proprietários, a senzala para abrigar as pessoas escravizadas, as moendas, as casas de engenho (fábricas) e as plantações. Formados para atender à demanda europeia por derivados da cana-de-açúcar, os engenhos banguê se constituíram como um dos principais centros da escravização no Brasil, simbolizados principalmente pelo pelourinho, estrutura de pedra ou madeira no centro das senzalas utilizada para tortura e humilhação da população negra escravizada.

 

Naquele contexto, também os lares das senhoras e senhores de engenho eram transformados em espaços de trabalho escravocrata para as mulheres negras que eram escolhidas para os ambientes domésticos, compondo as personagens das mães pretas e criadas que permeiam o imaginário saudosista de parte significativa da literatura do movimento modernista. Casas eram espaços de trabalho atrelados à servidão e violência sexuais.

 

Hoje, muitas mulheres pretas e pobres ainda se sustentam por meio do trabalho doméstico remunerado (ou ainda camuflado em condições chamadas análogas à escravização). Hoje, casas são também espaços de trabalho não só para essas mulheres, mas para outros grupos sociais que “estrangerizam” e falam em “home office”. O contexto da pandemia que o diga! 

 

Nesse paralelo, nos perguntamos se os engenhos banguê existem apenas como lembrança de uma época distante, de uma vida sofrida já ultrapassada pela modernidade, pela intensificação dos modos de produção capitalista, e pela tecnologia digital. Será que a lógica por trás do avanço capitalista é tão diferente daquela do Brasil colonial?

 

O doutorando do PPGAdm, Bruno Ricardo, a partir de andanças pela Grande Vitória, narra: “notei em vários pontos de ônibus uma pichação, uma intervenção bastante perspicaz em que se lê ‘navio negreiro’. Ver essa mesma pichação em Vitória, Vila Velha, Cariacica, Serra e Viana, sempre na plaquinha dos pontos de ônibus, sempre me fez refletir. Uma leitura que faço é que a violência que os navios negreiros representaram ao longo dos séculos de escravização foram modernizadas e ressignificados na precariedade do transporte público, majoritariamente utilizado por pessoas pretas e de baixa renda que dele dependem”.

 

Em outra possível leitura, assim como os navios negreiros transportavam pretas e pretos para escravização nos engenhos ou nos lares dos colonizadores para outras funções, o transporte público hoje nos leva para nossa escravização moderna no mundo do trabalho, seja ele tido como produtivo, ou reduzido erroneamente a reprodutivo, como é o caso do trabalho doméstico remunerado.

 

Alguns dos convites a reflexões oportunizadas pelo evento envolvem formas contemporâneas de trabalho, e toda a problemática a elas inerentes, a ressignificação de espaços como nossas casas que, durante a pandemia, se tornaram lar, trabalho, lazer, escola (ou engenhos contemporâneos?) e que são, ao mesmo tempo, já espaço histórico de trabalho informal, e de trabalho do cuidado. Assim, o XI SEGOC apresentará atividades centrais relacionadas às seguintes temáticas:

 

- a precarização do trabalho na crise vivida pelo Brasil desde 2016;

- os processos de gestão virtualizados, como a uberização do trabalho, e seus impactos;

- os impactos da casa como espaço de trabalho;

- a resistência da população negra a partir da organização de quilombos no contexto do trabalho.

 

O XI SEGOC ainda abrigará uma programação cultural, minicursos e sessões de apresentação de artigos. Como de costume, os artigos deverão ser submetidos observando o escopo de uma das três linhas de pesquisa do PPGAdm: Organizações e Trabalho; Desempenho e Competitividade Organizacional; Práticas Organizacionais e Culturais. Os descritores das linhas estão na seção de Submissões.

 

Esperamos que o evento seja uma excelente oportunidade de aprendizado e diálogo!