Amor-próprio e a reversão da regra emocional central do Ocidente
DOI:
https://doi.org/10.47456/sofia.v12i2.42542Palavras-chave:
regra emocional do amor, amor-próprio, poder emocional, governo, paixõesResumo
O artigo discute a transformação da principal regra emocional do Ocidente: o amor. As leituras que Reforma e Contrarreforma fizeram da obra de Santo Agostinho colocaram a regra do amor no centro dos tratados de governo das paixões do século XVII. O período de guerras religiosas e unificação dos Estados nacionais fez com que a regra agostiniana fosse deslocada para a política, com o amor-próprio operando como uma grade de leitura pessimista das condutas de súditos e adversários. Se na primeira metade do século a condenação cristã do amor-próprio e o governo neoestoico das paixões se confundiu com a nascente Razão de Estado, na segunda metade ocorreu uma reversão da regra emocional. A concepção jansenista de como a providência divina dispôs dos amores-próprios para colocar a satisfação de um a serviço das necessidades dos outros operou como modelo para a Economia Política e o nascente liberalismo. Com isso, o amor-próprio esclarecido foi afirmado como norma política, mediado pelo dispositivo emocional do comércio.
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