O Olho da Memória: Artista Pulsional
Abstract
Este ensaio tenta relacionar a imagem do corpo, apreendida pela fotografia, como obra artística, ao mesmo tempo em que permite emergir questões envolventes a esse corpo, como por exemplo, o diálogo visual e sua repercussão a quem lança esse olhar. A imagem como mediadora dessa reflexão é ponte e constituinte para acompanharmos a crítica de Vik Muniz à violência Política e Estatal, na obra Reprodução de Memória da Menina de Trang Bang (1989), corroboradas pelas interpretações de Annateresa Fabris (2009), de Georges Didi-Huberman (2010), Slavoj Zizek (2008) e Sigmund Freud (1974, 1986).
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References
"O corpo passa a ser visto então como fruto da pobreza, da violência, da exclusão, da loucura, da droga, da angústia e da morte, um corpo trágico." (PULTZ & MONDENARD, 1995, apud FABRIS, 2009)
"Um âmbito conflituoso difícil de delimitar, um lugar de convergência ou disputa de complexas pulsões morais, biológicas e políticas. A batalha social, a luta de gêneros e de classes desenvolve-se em seu corpo, mesmo que, nem sempre, você se dê conta disso. " (RAMIREZ, 2003, apud FABRIS, 2010).
" O desenho dar a entender que a menina surge de um pesadelo. Confrontado apenas com ela, o espectador contemporâneo pode aquilatar em profundidade o significado que esta imagem teve para a sociedade dos EUA, num momento crucial da guerra, obrigando a ver se como carrasco de uma criança de olhar assustado." (Galard, 2004, p.35-36, apud, FABRIS, 2009).
"... é apenas dos 6 ou 7 anos em diante – em muitos casos a partir dos 10 anos – que nossas vidas podem ser reproduzidas na memória de forma concatenada de eventos.[...]selecionadas como dignas de recordação as experiências que despertassem alguma emoção poderosa [...] o conteúdo mais frequente das primeiras lembranças da infância eram ,de um lado, situações de medo, vergonha, dor física, e de outros, eventos de doença, nascimentos de irmã ou irmão, incêndio e mortes." (FREUD, 1899/1986, p 33/334).
"O ato memorativo em geral, o ato histórico em particular, colocam assim fundamentalmente uma questão critica, a questão da relação entre o memorizado e seu lugar de emergência – o que nos obriga, no exercício dessa memória, a dialetizar ainda, a nos manter ainda no elemento de uma dupla distancia. Por um lado, objeto memorizado se aproximou de nós: pensamos tê-lo “reencontrado”, e que podemos manipulá-lo, fazê-lo entrar numa classificação, de certo modo temo-lo na mão." (DIDI-HURBERMAN, 2010, p.176).
"A dimensão “critica” da imagem dialética desdobra-se numa “dimensão de crise e de sintoma” e uma “dimensão de análise crítica” que põe em evidência uma estrutura que se encontra continuamente em transformação, produzindo “formas em formação”, “efeitos de deformação perpétua”: a imagem dialética é ambígua, nela confluem a catástrofe, o choque,entretecidos na perturbação, e o ressurgimento súbito de algo tornado visível pelatransformação. A dimensão crítica da imagem dialectica é um trabalho crítico damemória, feito “no confronto com tudo o que resta como com o índice de tudo oque se perdeu.” (ALMEIDA, 2012, p 310.)
“Porque, sendo potencialmente políticas, podem usar o corpo para controlar opiniões e influenciar ações.” (EWING, 96, p.324 apud FABRIS, 2009)
Citações de notas de rodapé
Ao se deparar com um impedimento ao seu id, instância central do prazer, o infante deseja que esse obstáculo seja destruído, aniquilado. Como na estrutura psíquica em desenvolvimento não se tem consciência de quem é o outro seja gato, mãe, porta, até certa idade o desejo de morte é direcionado a esse qualquer que assume o papel de barreira. Desejo de morte nisse sentido é o aniquilamento do outro. (FREUD, 1974).
Os princípios que governam o funcionamento mental estão profundamente marcados pelas duas pulsões fundamentais. Freud (1974) delimitou a existência da pulsão de morte (Tanâtos), ou princípio de Nirvana, e o seu oposto, a pulsão de vida (Eros), também chamada de pulsão sexual que conduz a libido.
O conceito, em Sjavoj Zizek (2008), de sujeito pós-traumático seria um indivíduo que após sofrer um choque (uma morte simbólica) há um descontínuo entre seu estado anteriore esse sujeito produzido, distanciando-se do mundo simbólico, um estranhamento com a fantasia,sem uma mediação com o mundo real .
Diferente de Freud que entende o trauma em si como o permanente produto do recalcamento originário e pôr conseguinte desestabilizador do aparelho mental do sujeito, Zizek (Apud XAVIER, 2015) considera que os agentes sociais, ou fontes que a infligiram não mantêm relação temporal com o indivíduo, mas tornam os indivíduos indiferentes à integração do trauma à sua percepção, vivendoindiferente sem desejarem, como metáforas do pós-apocalíptico como personagens do tipo mortos-vivos ou fantasmas.
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