Chamada de trabalhos. Dossiê: Derivas, resistências e artes no Antropoceno

16-08-2024

O fulcro desta chamada reside na percepção de um processo global de instabilidade que afeta diversas áreas da vivência e da ação social, humana e não-humana. Ao pensarmos em uma dinâmica de desconstrução da época do Antropoceno estamos a fomentar uma compreensão mais abrangente em torno de processos de (re)construção identitários individuais e coletivos. Isso inclui aspetos como o ecofeminismo, ecossistemas multidimensionais, migrações, colonialismo e pensamento decolonial, alterações climáticas, extrativismos, entre outros. Tais debates envolvem toda uma diversidade de dinâmicas que têm, nas artes, o seu foco de expressão mais perene e refundador. Assim, propomos derivas e resistências artísticas sobre o Antropoceno que resultem da convergência, da comunicação e da troca nas áreas da sociologia, da antropologia, da economia da cultura, dos estudos culturais, dos estudos urbanos, da educação artística, das humanidades, da arquitetura, da história de arte, entre outras.

Propomos derivas em torno da arte, dos seus espaços e hierarquias; nas relações entre a arte e a esfera pública; nas lógicas de espacialização e de territorialização das práticas culturais; nas instituições culturais e nas práticas artísticas na cultura contemporânea; nas conexões entre a sociologia, a antropologia e a arte contemporânea; nas artes de rua, o graffiti, na cidade e nas juventudes; as paisagens urbanas, artes e as cidades; nas curadorias, os engajamentos e as identidades artísticas; a crítica da arte; a diversidade cultural e artística; nas identidades, nas diásporas e nas nacionalidades; na globalização; na tecnologia e nos (des)encantamentos do mundo; no filme documentário e nas narrativas etnográficas; nos objetos, nas memórias, nas heranças e nas coleções; nas perspetivas sobre corpo, género e moda na contemporaneidade; nos quesitos de poéticas ampliadas e da música de resistência; no teatro, na criação, na linguagem e na contestação; na festivalização, nos eventos e no cosmopolitismo da cultura contemporânea; nas manifestações artísticas underground e subversivas; nas publicações sobre a arte e a vida social; na atuação das artes na inclusão social; nas relações entre dinâmicas culturais e o espaço público; nas externalidades, positivas e negativas, das atividades culturais; nas relações entre a atuação artística, as políticas culturais e o desenvolvimento dos territórios. Todos estes debates serão suportados pela matriz de relações poliédricas entre arte, política e natureza.

As artes como estruturas emancipatórias podem ser associadas ao Antropoceno, uma vez que ambas as perspetivas pretendem abordar as múltiplas crises associadas a arranjos sociais nocivos que cruzam a sociedade civil e a biosfera, ambos gerados por uma modernidade capitalista destrutiva. Mas o Antropoceno também se prefigura como estrutura desigualitária indelével: O Antropoceno congrega o modelo normativo da humanidade, nomeadamente porque reitera e expande as desigualdades estruturantes entre sexo/género, racial/colonial, classes dominantes/dominadas e homem/espécies. Assim, esta chamada pretende ainda desconstruir a narrativa hegemónica sobre o Antropoceno, apresentando caminhos alternativos de reconstituição cidadã por via das artes poliédricas.

 

Data limite para envio de trabalhos: 20/10/2024

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Organização: Paula Guerra

Professora Associada de Sociologia na Universidade do Porto e Investigadora no Instituto de Sociologia da mesma Universidade. Professora Associada Adjunta do Griffith Centre for Social and Cultural Research da Griffith University na Austrália. É ainda investigadora do CITCEM – Centro de Investigação Transdisciplinar Cultura, Espaço e Memória, do Centro de Estudos de Geografia e Ordenamento do Território (CEGOT) e do DINÂMIA'CET – Iscte, Centro de Estudos sobre a Mudança Socioeconómica e o Território.