Cacau: discursos médicos e modelos de consumo nas publicações científicas do século XVIII: notas de pesquisa
Resumo
Os debates médicos relacionados ao consumo de produtos naturais ganharam novo fôlego com a introdução de diversas espécies oriundas dos territórios tropicais colonizados pelos europeus ao longo da modernidade. Entre as novidades exóticas estava o cacau e seu subproduto, o chocolate, primeira bebida colonial a fazer fama entre os círculos mais abastados do Velho Mundo. Desde o século XVI foi se produzindo um leque de informações sobre esse produto, tanto botânicas quanto medicinais e relacionadas aos diferentes modos de consumo. Nesse trabalho, buscaremos identificar a circulação de tais informações, especialmente as de caráter medicinal, a partir da comparação entre dois compêndios coevos: o primeiro intitula-se Tratado de los usos, abusos, propiedades y virtudes del tabaco, café, té y chocolate; extractado de los mejores autores que han tratado de esta matéria, á fin de que su uso no prejudique á la salud, antes bien pueda servir de alivio y curacion de muchos males de autoria do cirurgião Antonio Lavedan e publicado em Madri em 1796. A segunda obra é O Fazendeiro do Brazil melhorado na economia rural dos gêneros já cultivados, e de outros, que se podem introduzir, e nas fábricas, que lhes serão próprias, segundo o melhor que se tem escrito a este assunto, publicado entre 1798 e 1806 em Lisboa pelo Frei José Veloso. Buscaremos explorar os discursos relativos aos saberes médicos sobre o cacau por meio da Análise de Conteúdo, metodologia proposta por Laurence Bardin (2004), com vistas a construção de categorias que ajudem a identificar a circulação de saberes médicos característicos dos debates científicos do período moderno.