Preço de periódicos científicos é insustentável, anuncia Harvard
Memorando aos professores pede para que optem por publicações de acesso livre
Por Carlos Orsi
Em memorando aberto aos docentes, o Conselho Consultivo da biblioteca da Universidade Harvard anunciou que a situação das coleções de periódicos tornou-se “fiscalmente insustentável”, por conta dos elevados preços cobrados pelos editores das publicações acadêmicas, e exorta os pesquisadores da universidade a escolher opções de acesso gratuito para divulgar seus trabalhos.
“O custo anual, para Harvard, dos periódicos desses provedores [expressão que o memorando usa para se referir aos editores que elevaram seus preços] aproxima-se de US$ 3,75 milhões (cerca de R$ 6 milhões). Em 2010, um valor comparável dava conta de todos os custos de tudo que a biblioteca compra”, prossegue o texto, que afirma ainda que algumas assinaturas chegam a custar US$ 40.000 ao ano (R$ 75.000).
“O preço do conteúdo online de dois provedores subiu cerca de 145% nos últimos seis anos, o que excede, e muito, não apenas a inflação, mas também os índices de preço da educação superior e da biblioteca. Essas publicações, portanto, reclamam parcelas cada vez maiores do orçamento geral da coleção”, informa o memorando. A manutenção das assinaturas, na visão do conselho, ameaça os esforços da biblioteca para se manter atualizada em diversas áreas, “já comprometidas”.
Harvard é uma das universidades mais ricas do mundo, com uma dotação de US$ 27,6 bilhões (R$ 52 bilhões).
O memorando sugere que os estudantes e professores de Harvard passem a dar preferência a periódicos de acesso gratuito na hora de publicar seus artigos científicos e encorajem as associações profissionais de seus campos de estudo a publicar periódicos próprios .
Reportagem do jornal britânico The Guardian lembra que mais de 10.000 pesquisadores já se uniram a um boicote à editora holandesa Elsevier, em protesto contra as políticas de preço e de restrição de acesso da empresa. No início do ano, em resposta à forte pressão da comunidade acadêmica, a Elsevier retirou o apoio que vinha dando a um projeto de lei que tramitava no Congresso americano, e que impunha barreiras à divulgação gratuita de artigos científicos.
Ouvido pelo diário britânico, o diretor da Biblioteca de Harvard disse esperar que outras universidades tomem atitudes semelhantes. Ele se referiu à situação como um “paradoxo”. “Nós, os professores, fazemos a pesquisa, escrevemos os artigos, revisamos os artigos de outros pesquisadores, participamos de conselhos editoriais, tudo de graça, e então compramos de volta os frutos de nosso trabalho a preços exorbitantes”.
Em nota enviada ao Guardian, a Elsevier diz que o memorando de Harvard não cita nenhuma editora pelo nome, e que mantém “uma boa relação com as bibliotecas de Harvard”. “Acreditamos que Harvard continuará a ver o valor de publicar nos periódicos Elsevier”, afirma o texto.
Fonte: Revista Ensino Superior Unicamp (http://www.revistaensinosuperior.gr.unicamp.br/noticia.php?id=110)