CHAMADA PÚBLICA TEMPORALIS Nº 51 - PRIMEIRO SEMESTRE DE 2026

No conjunto da obra de Karl Marx, o método dialético é central por articular a ineliminável relação, nesta teoria, entre interpretação e transformação da realidade, notadamente a necessidade de superação da ordem burguesa. No erguimento teórico de Marx são inseparáveis o método crítico-dialético, a teoria do valor-trabalho e a perspectiva da revolução (Netto, 1989). A aproximação nos anos 1970 e o aprofundamento (a partir dos anos 1980) da teoria social marxiana permitiu a construção, pelo Serviço Social brasileiro, de um projeto profissional (Projeto Ético-Político) alinhado aos interesses da classe trabalhadora e orientado por valores emancipatórios, firmemente posicionados contra todas as formas de exploração e opressão. A existência, em termos históricos, da fundamentação teórico-metodológica marxiana no Serviço Social possibilita que essa profissão e área de conhecimento se disponha a construir estratégias de enfrentamento ao conservadorismo na profissão e na sociedade; comprometendo-se com o conjunto das lutas sociais em defesa da democracia, dos direitos sociais e da construção de uma sociedade emancipada, livre das relações capitalistas, racistas, patriarcais, homofóbicas e capacitistas. Ademais, a presença da teoria social marxiana e seu método de análise diferencia o Serviço Social brasileiro de outras áreas de intervenção profissional e produção de conhecimento, pois, sendo o método uma relação ineliminável entre sujeito e objeto e sendo a “questão social” em suas múltiplas manifestações a matéria-prima do Serviço Social, a realidade concreta da luta de classes se impõe como determinação ontológica do trabalho profissional e da investigação científica. Disto decorre que a dimensão da exploração do trabalho e dimensão do conjunto das opressões, tenham, no Serviço Social, a possibilidade de serem vistas em perspectiva de totalidade, ao lado da mediação e da contradição, categorias do método dialético em necessária unidade.

Este número busca reunir reflexões que aprofundem a compreensão crítica do método dialético marxiano, como fundamento ontológico da análise da realidade social, e sua centralidade, no Serviço Social, para a formação (graduada e pós-graduada), o trabalho profissional, a pesquisa, a produção do conhecimento, a extensão, a internacionalização e o apoio a todas as formas de lutas contra a exploração e opressão, particularmente diante do atual contexto de crise agravada do capital, recrudescimento das expressões da “questão social”, desmonte dos direitos sociais, avanço da extrema direita e crise ambiental.

Desta forma, este dossiê tem como objetivo acolher contribuições que discutam os fundamentos teóricos do método marxiano e suas implicações na produção do conhecimento crítico, nas estratégias de intervenção profissional e na formação teórico-política de assistentes sociais, considerando a incorporação da “questão social” e suas manifestações na contemporaneidade, das relações étnico-racial, de gênero, sexualidades, capacitistas e as demais formas de opressão, dominação e as resistências engendradas neste movimento. São esperados artigos que abordem os desafios contemporâneos à adoção do método dialético no trabalho profissional; na pesquisa; sua presença (ou ausência) nos currículos de formação graduada e pós-graduada; suas potencialidades na análise, elaboração e defesa da democracia e das políticas sociais; nas experiências concretas de sua utilização em diferentes espaços socio-ocupacionais; nos processos de internacionalização do Serviço Social; no fortalecimento das variadas lutas sociais; na construção da unidade das lutas sociais emancipatórias em defesa da construção de uma sociabilidade que supere a ordem burguesa e as formas de opressão persistentes na sociedade (racismo, patriarcado e capacitismo).

Ao propor este número, a Temporalis reafirma sua missão de contribuir para o fortalecimento da tradição crítica no Serviço Social, apostando na produção de conhecimento alinhada à crítica da ordem burguesa e à construção de uma nova sociabilidade, orientada pelos princípios da liberdade, igualdade e emancipação humana.