ABUSO SEXUAL: FORMAÇÃO PROFISSIONAL, CONDIÇÕES DE ENFRENTAMENTO DA PROTEÇÃO SOCIAL ESPECIAL E O ADOECIMENTO DO PROFISSIONAL QUE ATUA NO ATENDIMENTO ÀS VÍTIMAS
DOI:
https://doi.org/10.22422/temporalis.2018v18n35p372-381Resumo
O presente artigo é fruto da tese de doutorado em sociologia/UFPB - O PODER NOS MUROS DO SILÊNCIO: abuso sexual, segredo e família, defendida em 2016.
As vítimas de violência sexual nas unidades de saúde e de assistência são sempre acolhidas por uma equipe multidisciplinar. A multiplicidade de olhares para uma mesma questão – o abuso sexual – favorece a compreensão deste problema como multifacetado. Como pontuou Azevedo e Guerra (2007), a vítima de abuso sexual apresenta-se como uma síntese de comorbilidade, ou seja, a vítima nunca se apresenta apenas com uma única modalidade de violência, mas como uma síntese de modalidade de violência intrafamiliar que será revelada no contato e na escuta qualificada da equipe multidisciplinar. A revelação da violência sexual, mediante relato da vítima junto aos profissionais qualificados, possibilita também a exposição de toda uma dinâmica da violência doméstica. Neste sentido, a atuação em rede é um ponto crucial, visto que várias demandas se apresentam, requerendo com isso que o trabalho seja fortalecido entre os técnicos de atendimento direto, como também com a equipe de referência e contra referência. Trabalhar com a dor do outro não representa uma tarefa fácil para as equipes multidisciplinares no setor de saúde e assistência social. As dificuldades de operacionalizar as ações por limitações institucionais, de formação, de apoio e falta de capacitação adequada, muitas vezes, leva a própria equipe a buscar formas criativas para suportar o peso do cotidiano permeado por histórias de violências.
Downloads
Referências
AMARO, Sarita. Crianças vítimas de violência: das sombras do sofrimento à genealogia da resistência: uma nova teoria científica. 2. ed. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2011.
ARRAZOLA, Laura Susana Duque. O cotidiano sexuado de meninos e meninas em situação de pobreza. In: FELICIA, Reicher Madeira. Quem mandou nascer mulher?: estudo sobre crianças e adolescentes pobres no Brasil. Rio de Janeiro: Record Rosa dos Ventos, 1997.
AZEVEDO, Maria Amélia; GUERRA, Viviane Nogueira de Azevedo. (Orgs.). Crianças vitimizadas: a síndrome do pequeno poder. São Paulo: Iglu, 1989, 2007.
BRASIL. Presidência da República. Lei nº 12.435, de 6 de julho de 2011. Altera a Lei no 8.742, de 7 de dezembro de 1993, que dispõe sobre a organização da Assistência Social. Brasília (DF), 2011. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-/2014/2011/lei/l12435.htm >. Acesso em: 17/03/2018.
BRASIL. Presidência da República. Lei nº 8.742, de 7 de dezembro de 1993. Dispõe sobre a organização da Assistência Social e dá outras providências. Brasília (DF), 1993. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8742compilado.htm>. Acesso em: 10 set. 2017.
CARVALHO, Maria do Carmo Brant. A ação em rede na implementação de políticas e programas sociais públicos. Revista de Información del Tercer Sector, Madrid, abr. 2003.
Disponível em: <http://www.lasociedadcivil.org/wp-content/uploads/2014/11/a_ao_em_rede_na_implementao.pdf>. Acesso em: 10 ago. 2017.
ELIAS, Nobert. A sociedade dos indivíduos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1994.
FERREIRA, Kátia Maria. Violência Doméstica/Intrafamiliar contra crianças e adolescentes. In: SILVA, Lígia Maria Pereira da. Violência doméstica contra crianças e adolescentes. Recife: Edupe, 2002.
FOUCAULT, Michel. Microfísica do Poder. Belo Horizonte: Graal, 1999.
FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir: história da violência nas prisões. 24.ed. Petrópolis: Vozes, 2005.
FURINI, Luciano Antonio. Redes sociais de proteção integral à criança e ao adolescente: falácia ou eficácia. São Paulo: UNESP, 2011.
GUERRA, Viviane Nogueira de A. (Orgs.). Infância e violência doméstica: fronteiras do conhecimento. 2. ed. São Paulo: Cortez, 1998.
SANTOS, Milton. A natureza do espaço: técnicas e tempo, razão e emoção. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2006.
VELÁZQUEZ, Susana. Violencias y famílias implicancias del trabajo profissional: el cuidado de quienes cuidan. Buenos Aires: Paidós, 2012.