Flexibilidade, autonomia e exploração: análise sobre a plataformização do trabalho doméstico remunerado
DOI:
https://doi.org/10.22422/temporalis.2025v25n49p271-284Palavras-chave:
Trabalho doméstico, Plataformização do trabalho, Capitalismo, DireitosResumo
O artigo examina a trajetória do trabalho doméstico no Brasil, permeado pelas relações de gênero, raça e classe. Imbricado, agora, pela plataformização do trabalho e, consequentemente, da intensificação na exploração da força de trabalho feminina e da supressão dos direitos trabalhistas. Frente a isso, o trabalho em tela tem como objetivo demonstrar, por meio de uma análise histórica e crítica baseada no materialismo histórico-dialético, que o avanço da chamada “uberização do trabalho” afeta também a contratação das trabalhadoras diaristas no âmbito da limpeza. A ilusão de ser o próprio patrão e ter flexibilidade de horários, mascara a precarização do trabalho sob a forma do empreendedorismo, no qual as trabalhadoras financiam o capital constante (produtos de limpeza, materiais de trabalho etc.) e o capital variável (força de trabalho). Além dos custos não declarados, como alimentação e transporte. Essa nova organização do trabalho configura um desafio complexo, repleto de armadilhas teóricas e políticas, que convida à rebeldia imprescindível para prosseguir no combate, corroborando o imperativo da construção de uma sociedade liberta de tais armadilhas. O artigo conclui que, embora existam marcos legais, o trabalho doméstico remunerado ainda enfrenta obstáculos significativos, perpetuando as desigualdades de gênero, raça e classe na sociedade brasileira, especialmente diante das novas formas de exploração promovidas pela tecnologia.
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