Classe trabalhadora uberizada: uberização e saúde-doença mediadas pelas TICs
DOI:
https://doi.org/10.22422/temporalis.2024v24n48p361-378Palavras-chave:
Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora, Plataformização, Uberização, Tecnologia da InformaçãoResumo
Objetivou-se perscrutar a mediação da tecnologia da informação e da comunicação (TICs) no processo de uberização do trabalho no que tange à intensificação do adoecimento mental da classe trabalhadora. O volume de estudos sobre uberização tem sido crescente, mas ainda carece de crítica radical. Considerando que o campo do Serviço Social tem historicamente contribuído com as lutas destes tempos, intentamos contribuir ao discutir como o chamado “fetiche da tecnologia” ofusca o fato que o que se o que está sendo sofisticado no processo de uberização do trabalho é a forma de controle e de exploração, e não os serviços, que são cada vez mais simples, fragmentados e isolados. A pesquisa é de cunho qualitativo, utilizando o levantamento bibliográfico e documental como fontes de pesquisa. A análise foi feita a partir do método crítico-dialético, com vias a uma aproximação do real. O estudo parte da discussão da reestruturação produtiva demonstrando como as TICs têm propiciado a ampliação da expropriação, ao mesmo tempo que tensiona os limites do que é tido como saúde, isto é, alterando a dinâmica do processo-saúde doença, que tem se expressado no aumento do adoecimento mental. Concluímos introduzindo a categoria das cargas de trabalho, a carga digital, que expressa a subsunção virtual, ambas como a intensificação da exploração do que nomeamos classe trabalhadora uberizada.
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