Chamada de artigos para o Dossiê "A escravidão moderna e as instituições luso-brasileiras entre os séculos XVII e XIX".

28-02-2024

Após algum tempo de arrebatadas discussões sobre ser ou não a violência o elemento estrutural da dominação escravista, um grupo de historiadores, composto por brasileiros e por alguns brasilianistas, dedicados à compreensão de diferentes facetas do cotidiano de africanos e descendentes que viveram como escravos na antiga colônia lusa da América e depois no Império do Brasil, empreendeu numerosos estudos marcados por abordagens que privilegiaram análises bastante definidas espaço-temporalmente, nas quais o escravo acabou por assumir, via de regra, um papel preponderante sobre a própria escravidão. Salvo algumas exceções, a documentação cartorial, policial e judiciária relativa aos cativos foi frequentada mais como um meio de se chegar ao dia a dia dos envolvidos do que propriamente para o estudo do aparato estatal que lhe conferia forma e legalidade.

Mais recentemente, no entanto, ao longo das últimas duas décadas, mesmo se considerarmos que os estudos localizados ainda tenham alcançado uma expressão considerável, assistiu-se no Brasil, no Caribe e nos Estados Unidos a um renovado interesse pelas macroabordagens, tanto na publicação de novas pesquisas, quanto na produção de traduções de obras consagradas – que colocaram à disposição de um número mais amplo de interessados questões que ficaram, por algum tempo, relegadas a segundo plano, esquecidas sob a pecha de grandes generalizações de caráter ideológico, economicista ou culturalista. Aos poucos, a história da escravidão moderna vem sendo, no Brasil e no exterior, novamente interpretada à luz de histórias conectadas no espaço americano, na perspectiva atlântica, sob o prisma do império português e no âmbito da própria cultura ocidental.

Colocando-se a um só tempo como tributário e crítico desses amplos movimentos historiográficos, este dossiê temático pretende abrir espaço a um conjunto novo e vibrante de estudos que vem articulando o problema da escravidão de africanos e descendentes à construção ou ao funcionamento de instituições que compuseram a Monarquia lusa e o Estado do Império do Brasil entre os séculos XVII e XIX. Assim, serão bem-vindas investigações em torno dos impactos da escravidão sobre instituições ligadas aos governos monárquicos e ao próprio Estado, tais como: os Tribunais Seculares e Episcopais, o Santo Ofício, os Conselhos Administrativos e Consultivos, as Assembleias, as Câmaras Administrativas e Parlamentares, a Polícia, o Júri, dentre outros órgãos que, neste amplo lapso temporal, contribuíram por meio de suas práticas e de seus membros para o estabelecimento do longo debate sobre o binômio Escravidão e Estado no mundo luso-brasileiro. Interessam, ainda, estudos que explorem as prescrições e os atributos conferidos à escravidão ou às condutas cotidianas de senhores, escravos e libertos por instituições nesses séculos. Acreditamos que jogar luz sobre tais abordagens possa trazer novos aportes e discussões instigantes para o debate sobre um tema que, no último meio século, primou pela polêmica e por constantes renovações interpretativas, com impactos sobre a escrita da história no Brasil e no exterior. 

 

Organizadores: Dr. Ricardo Alexandre Ferreira (UNESP), Drª. Monique Marques Nogueira Lima (UNESP) e Drª. Larissa Biato de Azevedo (UNESP)

Prazo de recebimento de artigos: 31 de julho de 2024.