SOBRE O SORRISO E A IGNORÂNCIA: SENDAS DO ENSINO DE LITERATURA

Autores

  • Patricia Trindade Nakagome Universidade de Brasília

DOI:

https://doi.org/10.47456/contexto.v2i44.43367

Resumo

Neste artigo, apresentamos uma reflexão sobre dois aspectos que se configuram no ensino de literatura como sendas, termo que é tanto caminho estreito quanto hábito, costume. O sorriso e a ignorância são elementos fundamentais a assentar o trajeto que une leitor e texto, mas podem passar desapercebidos precisamente por estarem tão enraizados em nossas práticas de leitura. No entanto, quando a pandemia revira todo o conhecido, ambos ficam expostos como rastros de um cotidiano desaparecido. Nas aulas de literatura remotas, sentimos falta do sorriso oculto pelas máscaras e pelas câmeras desligadas e das dúvidas antes compartilhadas nos encontros e intervalos. A ausência daquilo que parecia secundário e natural nas aulas passou a exigir um novo modo de pensar a literatura, de ensinar e, além disso, de fazer pesquisa na área. Para refletir sobre isso, dialogamos especialmente com O mestre ignorante de Jacques Rancière (2002) e On Not Knowing: How to Love and Other Essays de Emily Ogden (2022) de modo a propor uma leitura de O filho de mil homens de Valter Hugo Mãe (2011), obra que ocupou lugar central nas aulas ocorridas durante a pandemia. A partir desse recorte, defendemos o sorriso e a ignorância como valiosas manifestações de vulnerabilidade e instrumentos de leitura tanto do texto quanto da vida.

PALAVRAS-CHAVE: Ensino. Ignorância. Sorriso. Valter Hugo Mãe.

 

ON SMILE AND IGNORANCE: PATHS OF LITERATURE TEACHING

ABSTRACT: In this paper, it is presented a reflection on two aspects that are configured in the teaching of literature as "sendas”, a term that is both a narrow path and a habit, a custom. The smile and ignorance are fundamental elements that establish the path that unites reader and text, but they can go unnoticed precisely because they are so rooted in our reading practices. However, when the pandemic overturns everything known, both are exposed as traces of a disappeared everyday life. In remote literature classes, we miss the smile hidden by masks and off cameras and the doubts previously shared in meetings and breaks. The absence of what seemed secondary and natural in the classroom began to demand a new way of thinking about literature, the role of the teacher and, moreover, the way of doing research in the area. To reflect on this, we dialogue especially with The Ignorant Schoolmaster by Jacques Rancière (2002) and On Not Knowing: How to Love and Other Essays by Emily Ogden (2022) in order to propose a reading of O filho de mil homens by Valter Hugo Mãe (2011), a book that occupied a central place in the classes that took place during the pandemic. From this perspective, we defend the smile and ignorance as valuable manifestations of vulnerability and tools for reading both the text and life.

KEYWORDS: Teaching. Ignorance. Smile. Valter Hugo Mãe.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Referências

BADINTER, Elisabeth. Um amor conquistado: o mito do amor materno. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985.

BENJAMIN, Walter. “O narrador. Considerações sobre a obra de Nikolai Leskov”. Obras escolhidas, volume 1. São Paulo: Editora Brasiliense, 1987.

BERNARDI, Tati. Você nunca mais vai estar sozinha. São Paulo: Companhia das Letras, 2020.

EMECHETA, Buchi. As alegrias da maternidade. Porto Alegre, Dublinense. 2018.

FELSKY, Rita. Limits of Critique. Chicago: The University of Chicago Press, 2015.

FERRANTE, Elena. A filha perdida. Rio de Janeiro: Editora Intrínseca, 2016.

HARWICZ, Ariana. Morra, amor. São Paulo: Editora Instante, 2019.

MÃE, Valter Hugo. O filho de mil homens. Rio de Janeiro: Biblioteca azul, 2016.

OGDEN, Emily. On Not Knowing: How to Love and Other Essays. Chicago: The University of Chicago Press, 2022.

RANCIÈRE, Jacques. O mestre ignorante: cinco lições sobre emancipação intelectual. Belo Horizonte: Autêntica, 2007.

SLIMANI, Leila. Canção de ninar. São Paulo: Planeta do Brasil, 2018.

Downloads

Publicado

29-12-2023

Edição

Seção

Dossiê Literatura e leitura na covid-19