Natureza Barata e Desigualdade Hidrossocial no Capitaloceno
DOI:
https://doi.org/10.47456/regec.2317-5087.2020.9.3.32045.122-146Palabras clave:
Desigualdade, Ciclo Hidrossocial, Capitaloceno, Antropoceno, OrganizaçõesResumen
O advento do Antropoceno tem fomentado inúmeras querelas entre correntes de pensamento sobre as causas e consequências dessa nova era para o planeta e para a humanidade, diante do iminente esgotamento e aprofundamento da distribuição desigual dos recursos naturais. Neste ensaio teórico crítico, propomos a noção de desigualdade hidrossocial como uma leitura alternativa da desigual apropriação física, discursiva e política da água sob a lógica capitalista. Para isso, recorremos, fundamentalmente, às contribuições do Capitaloceno, mais especificamente às ideias de Ecologia Mundo Capitalista e de Natureza Barata, e do ciclo hidrossocial. A noção de desigualdade hidrossocial permite atualizar e ampliar o marco analítico temporal, espacial e material da crise hídrica. A apropriação e distribuição assimétrica do “ciclo hidrológico” e de externalidades, com a submissão cada vez maior do ciclo hidrossocial à lógica neoliberal e estatal, tende a exacerbar as modalidades de desigualdade, injustiças, conflitos, violências de uma crise de grandes proporções.
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