AMYLTON DE ALMEIDA À CONTRAPELO:

UMA LEITURA BENJAMINIANA DE LUGAR DE TODA POBREZA (1983)

Resumo

Este artigo discute o compromisso da produção cultural de Amylton de Almeida com a realidade dos oprimidos durante a metropolização de Vitória. Ele analisa o documentário Lugar de Toda Pobreza, gravado em parceria com Henrique Gobbi em 1983, aclamado nacional e internacionalmente ao tornar pública a rotina dos moradores que sobreviviam do lixo na região da Grande São Pedro – bairro de Vitória, capital do Espírito Santo –, formado majoritariamente por migrantes que chegaram à capital capixaba atraídos pelos chamados Grandes Projetos e as supostas benesses do Milagre Econômico ao longo do regime militar. Como um número expressivo daqueles migrantes não conseguiu oportunidade de emprego e moradia, ocuparam áreas periféricas e formaram um enorme conglomerado de famílias que viviam em situação de extrema miséria, que só conheceram amparo do poder público e ajuda da população após a exibição do documentário pela TV Gazeta. A partir de uma abordagem benjaminiana, busca-se interpretar Lugar de Toda Pobreza como um registro histórico à contrapelo das narrativas otimistas sobre o processo de formação da Grande Vitória e o impacto da Ditadura Militar no Espírito Santo. A Montagem Literária e o conceito de Origem (Ursprung) estão associados à análise do objeto para uma abordagem histórica à contrapelo que recusa a temporalidade linear da história oficial e seus discursos otimistas e busca no presente o resgate histórico dos excluídos.