A eugenia no Brasil: uma pseudociência como suporte no trato da "questão social"

Authors

  • Ivan Ducatti Professor Adjunto Substituto da Escola de Serviço Social (ESS) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

DOI:

https://doi.org/10.22422/2238-1856.2015v15n30p259-280

Abstract

A eugenia é uma pseudociência que mais ganhou corpo na América Latina, ainda que a Europa já mostrasse seu descrédito enquanto ciência, nas décadas de 1920 e 1930, com as denúncias das práticas nazistas. Na formação da Saúde Pública brasileira, num contexto de agudas desigualdades sociais e de pobreza estrutural, esta se orientou pelos pressupostos eugênicos, o que significava criar uma hierarquia de saber, de comando, de prioridades na saúde, numa postura campanhista dirigida para selecionar os adaptáveis ao grande capital que aqui ia se aportando a partir da Era Vargas. A eugenia foi uma concepção racista, por intermédio da qual procurava-se justificar o atraso econômico pelo fato de o país possuir uma grande população negra, pobre e doente, os considerados – por boa parte da elite médica brasileira – não adaptáveis e inconvenientes ao desenvolvimento econômico. Para esses pensadores eugenistas, os inconvenientes deveriam ser esterilizados e segregados. A segregação, em nível particular de ação profilática, atingiu os(as) portadores(as) de hanseníase por meio da política do isolamento compulsório.

Downloads

Download data is not yet available.

Author Biography

Ivan Ducatti, Professor Adjunto Substituto da Escola de Serviço Social (ESS) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Professor Adjunto de História Contemporânea da Universidade Federal Fluminense (UFF). Historiador, Mestre e Doutor em História Social pela Universidade de São Paulo (USP). Pós-doutorando em Serviço Social pela Escola de Serviço Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

References

BOARINI, M. L.; YAMAMOTO, O. Higienismo e eugenia: discursos que não envelhecem. Psicologia Revista, São Paulo, v. 13, n.1, p. 59-72. 2004.

BOSCHETTI, I. Seguridade social no Brasil: conquistas e limites à sua efetivação. In: CFESS. Conselho Federal de Serviço Social. (Org.). Serviço Social: direitos sociais e competências profissionais. Brasília: CEAD/Ed. UnB, 2009.

COUTINHO, C. N. O estruturalismo e a miséria da razão. São Paulo: Expressão Popular, 2010.

DUCATTI, I. A hanseníase no Brasil na Era Vargas e a profilaxia do isolamento compulsório: estudos sobre o discurso científico legitimador. 2008. 199 f. Tese (Doutorado em História)- Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade São Paulo, São Paulo, 2008.

DURKHEIM, E. Biografia. In: WIKIPÉDIA, a enciclopédia livre. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%89mile_Durkheim> Acesso em: 3 set. 2015.

EAGLETON, T. As ilusões pós-modernismo. Rio de Janeiro: Zahar, 2010.

GOLDMANN, L. Ciências humanas e filosofia: o que é a sociologia? 7. ed. São Paulo: Difel, 1979.

GUERRA, Y.; LEITE, J.; ORTIZ, F. Análisis de las contradicciones constitutivas de las políticas sociales en Brasil: el paradigma de la asistencia social: interacción y perspectiva. Revista de Trabajo Social, Maracaibo, v. 5, n. 1, p. 151-172, jan./jun. 2015.

GUIMARÃES, A. P. As classes perigosas: banditismo rural e urbano. Rio de Janeiro: Ed. UFRJ, 2008.

IAMAMOTO, M. V.; CARVALHO, R. de. Relações sociais e Serviço Social no Brasil: esboço de uma interpretação histórico-metodológica. 2. ed. São Paulo: Cortez, 1983.

LUKÁCS, G. Existencialismo ou marxismo. São Paulo: Senzala, 1967.

MACIEL, M. E. de S. A eugenia no Brasil. Anos 90, Porto Alegre, v.1, n.11, p. 121-143, jul. 1999.

MONTEIRO, Y. N. Da maldição divina à exclusão social: um estudo da hanseníase em São Paulo. 1995. 465 f. Tese (Doutorado em História Social)- Universidade de São Paulo, São Paulo, 1995. 2 v.

PAULO NETTO, J. Cinco notas a propósito da “questão social”. Temporalis, Brasília-DF, ano II, n. 3, p. 41-49. 2001.

SODRÉ, F. Serviço Social e o campo da saúde: para além de plantões e encaminhamentos. Serviço Social & Sociedade, São Paulo, n. 103, p. 453-475, jul./set. 2010.

SOUZA, T. M. S. Emoções e capital: as mulheres no novo padrão de acumulação capitalista. 2006. 356 f. Tese (Doutorado em Psicologia Social)- Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2006.

STEPAN, N. L. “The hour of eugenics”: race, gender, and nation in Latin America. Ithaca (EUA), Cornell University Press, 1991.

VIEIRA, E. Estado e miséria social no Brasil: de Getúlio a Geisel. 4. ed. São Paulo: Cortez, 1995.

Published

08-01-2016

How to Cite

Ducatti, I. (2016). A eugenia no Brasil: uma pseudociência como suporte no trato da "questão social". Temporalis, 15(30), 259–280. https://doi.org/10.22422/2238-1856.2015v15n30p259-280