Política, cura e religião: o Reformador e o artigo 157 das leis penais de 1890

Autores

  • Adriana Gomes Universidade Salgado Oliveira

DOI:

https://doi.org/10.47456/e-2021320105

Palavras-chave:

Espiritismo, Código Penal de 1890, Processos Criminais, Reformador, Curandeirismo

Resumo

O artigo se propõe discutir a atuação da Federação Espírita Brasileira a partir da fonte Reformador, jornal espírita, que divulgou alguns processos criminais em que cidadãos seguidores do Espiritismo tiveram que responder por adotarem práticas consideradas ilegais. O Código Penal de 1890 criminalizou práticas espíritas em seu artigo 157, o que levou uma série de adeptos a responderem processos criminais, incluindo a própria Federação Espírita Brasileira na ocasião da instauração do Regulamento Sanitário em 1904, que intensificou as perseguições. A partir da análise teórico-metodológica de Pierre Bourdieu, compreendemos que a criminalização promoveu disputas simbólicas entre o campo religioso e o campo da ciência, representado pelos profissionais da medicina. Compreendendo os espíritas como novos jogadores nos sobreditos campos, em busca de legitimação, passaram a ser inseridos pelas autoridades políticas, policiais e médicas no que juridicamente ficou denominado de charlatanismo e curandeirismo. Aos juízes coube a tarefa de diferenciar o que seria religioso e curandeirismo em um emaranhado de discursos em defesa à liberdade religiosa e à saúde pública.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Referências

Fontes

ARQUIVO NACIONAL. Processo s/nº, Caixa 1827. Processo criminal contra a Federação Espírita Brasileira a partir da denúncia ao presidente da instituição Leopoldo Cirne, 1904.

ARQUIVO NACIONAL. Processo s/nº, Caixa 1764. Processo criminal envolvendo a Federação Espírita Brasileira em que Domingos Filgueiras, sob intervenção mediúnica, prescrevia receitas médicas na sede da instituição, 1905.

HEMEROTECA DIGITAL DA FUNDAÇÃO BIBLIOTECA NACIONAL Jornal do Commercio, Rio de Janeiro, 1890.

HEMEROTECA DIGITAL DA FUNDAÇÃO BIBLIOTECA NACIONAL O Apóstolo, Rio de Janeiro, 1883.

HEMEROTECA DIGITAL DA FUNDAÇÃO BIBLIOTECA NACIONAL, Reformador Rio de Janeiro, 1895, 1898.

COLEÇÃO DE LEIS DO BRASIL. Decreto 119-A. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1851-1899/d119-a.htm>. Acesso em: jan. 2021.

COLEÇÃO DE LEIS DO BRASIL. Código Penal de 1890. Disponível em: <http://legis.senado.gov.br/legislacao/ListaPublicacoes.action?id=66049>. Acesso em: jan. 2021.

COLEÇÃO DE LEIS DO BRASIL. Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil de 1891. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao91.htm>. Acesso em: jan. 2021.

COLEÇÃO DE LEIS DO BRASIL. Decreto nº 5.156, de 8 de Março de 1904. Disponível em: <http://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1900-1909/decreto-5156-8-marco-1904-517631-publicacaooriginal-1-pe.html>. Acesso em: jan. 2021.

Obras Gerais

AYRES, L.; AMORIM, W.; et al. As estratégias de luta simbólica para a formação da enfermeira visitadora no início do século XX. História, Ciências, Saúde – Manguinhos, vol. 19, n. 3, jul-set, 2012, p. 861-881.

BOURDIEU. Pierre. A economia das trocas simbólicas. São Paulo: Perspectiva, 1987.

COELHO, Edmundo Campos. As profissões imperiais: medicina, engenharia e advocacia no Rio de Janeiro. São Paulo: Record, 1999.

DAMAZIO, Sylvia. Da elite ao povo: advento e expansão do espiritismo no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Editora Bertrand do Brasil, 1994.

DUPAS, G. O mito do progresso. São Paulo: Editora Unesp, 2006.

ELIAS, N. O processo civilizador: uma história dos costumes. 1, Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editora, 1994.

FERREIRA, Luiz Otávio. Medicina Impopular: ciência médica e medicina popular nas páginas dos periódicos científicos (1850-1840). In: CHALHOUB, Sidney; MARQUES, Vera Regina Beltrão; SAMPAIO, Gabriela dos Reis; GALVÃO SOBRINHO, Carlos Roberto (Org.). Artes e Ofícios de curar no Brasil. Campinas: Editora da Unicamp, p.101-122, 2003.

GIL, Marcelo Freitas. A inserção do espiritismo no universo cultural europeu: uma análise panorâmica. Revista Brasileira das Religiões: ANPUH, 2010.

GIUMBELLI, Emerson. O cuidado dos mortos: uma história da condenação e legitimação do espiritismo. Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 1997.

_____. Espiritismo e medicina: introjeção, subversão, complementaridade. In: ISAIA, Artur César. Orixás e Espíritos: o debate interdisciplinar na pesquisa contemporânea. Uberlândia: EDUFU, pp. 283-304, 2006.

GOMES, Adriana; SERAFIM, Vanda. O artigo penal 157 sob o olhar da Antropologia Criminal: as aproximações entre o juiz Francisco José Viveiros de Castro e o médico Raimundo Nina Rodrigues In: GOMES, Adriana; GULÃO, Marcelo; CUNHA, André (orgs). Espiritismo em perspectivas. Salvador: Sagga, 2019.

GOMES, Adriana. Entre a fé e a polícia: o espiritismo no Rio de Janeiro (1890-1909). Dissertação de Mestrado do Programa de Pós-graduação da UERJ. Rio de Janeiro: 2013.

_____. A judicialização do Espiritismo: o ‘crime indígena’ de João Baptista Pereira e a jurisprudência de Francisco José Viveiros de Castro (1880-1900). Rio de Janeiro: Multifoco, 2020.

GONDRA, J. G. Artes de civilizar: medicina, higiene e educação escolar na corte imperial. Rio de Janeiro: EdUERJ, 2004.

LE GOFF, J. A história do quotidiano. In: DUBY,G.; ARRiÉS, P.; LADURIE E. L. R.; LE GOFF, J. História e nova história. Lisboa: Teorema, 1980.

LUZ, Jozé Antunes. A medicina, os doentes e os médicos. Tipographia Rua do Cano, 1854.

MACHADO, Ubiratan. Os intelectuais e o espiritismo: de Castro Alves a Machado de Assis. Rio de Janeiro: Publicações Lachâtre, 1996.

MAGGIE, Yvonne. O medo do feitiço: relações entre a magia e o poder no Brasil. Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 1992.

MONTERO, Paula. Religião, pluralismo e esfera pública no Brasil. Revista Novos Estudos. São Paulo: CEBRAP, 2006.

PEREIRA NETO, André de Faria. Ser médico no Brasil: o presente no passado. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2001.

PIMENTA, Tânia Salgado. Terapeutas populares e instituições médicas na primeira metade do século XIX. In: CHALHOUB, Sidney; MARQUES, Vera Regina Beltrão, et al. Artes e ofícios de curar no Brasil. São Paulo: Editora Unicamp, 2003.

RIO, João do. As Religiões do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: José Olympio, 2008.

RODRIGUES, Antônio Edmilson Martins. História da Urbanização no Rio de Janeiro: a cidade capital do século XX no Brasil. In: CARNEIRO, Sandra de Sá; SANT’ANNA, Maria Josefina Gabriel (orgs.). Cidade: olhares e trajetórias. Rio de Janeiro: Garamond, pp. 85-119, 2009.

SÁ, Dominichi Miranda de. A ciência como profissão: médicos, bacharéis e cientistas no Brasil (1895-1935). Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2006.

SAMPAIO, Gabriela dos Reis. “Curandeiros e Charlatães”: reflexões sobre medicina, crença e cura na primeira década republicana. Mneme -Revista de Humanidades (UFRN), v. 15, n. 34, jan./jun. 2014.

SCHWARCZ, Lilia M. “O Espetáculo das Raças”: cientistas, instituições e questão racial no Brasil (1870-1930). São Paulo: Companhia das Letras, 2008.

SCHRITZMEYER, Ana Lúcia Pastore. Os sortilégios de Saberes: curandeiros e juízes nos tribunais brasileiros (1900-1990). São Paulo: IBCCRIM, 2004.

WEBER, Beatriz Teixeira. As Artes de Curar: medicina, religião, magia e positivismo na república Rio Grandense – 1889-1928. Bauru: Editora da Universidade do Sagrado Coração, 1999.

Downloads

Publicado

20-07-2021

Como Citar

GOMES, Adriana. Política, cura e religião: o Reformador e o artigo 157 das leis penais de 1890. Revista Ágora, [S. l.], v. 32, n. 1, p. e-2021320105, 2021. DOI: 10.47456/e-2021320105. Disponível em: https://periodicos.ufes.br/agora/article/view/34160. Acesso em: 28 mar. 2024.

Edição

Seção

Doenças e práticas de cura na História brasileira