A MATERIALIZAÇÃO PROSÓDICA DE ESTRUTURAS DESGARRADAS COMPARADA A DE TÓPICOS E CLIVAVAS

REFLEXÕES PRELIMINARES

Autores

  • Ana Carolina Barros Gonçalves Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)
  • Aline Ponciano dos Santos Silvestre Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) http://orcid.org/0000-0002-7019-1178

DOI:

https://doi.org/10.47456/cl.v14i28.31339

Palavras-chave:

Desgarramento, Prosódia, Estratégias de Focalização

Resumo

Decat (1999; 2009; 2011) postula o fenômeno do desgarramento e afirma que o uso de estruturas “soltas” funciona como estratégia de focalização para atender a objetivos comunicativos e discursivos, sendo comparável à topicalização e à clivagem. Com base nisto, este trabalho objetiva averiguar se estruturas desgarradas apresentam pistas prosódicas que as assemelhem às já descritas para tópicos e clivadas no Português do Brasil, fornecendo evidência fonológica à estratégia sintática. Para tal, são utilizados os pressupostos teóricos da Fonologia Prosódica (NESPOR; VOGEL, 1986) e da Fonologia Entoacional (PIERREHUMBERT, 1980; LADD, 2008) e analisadas gravações feitas com base em exemplos retirados de Decat (2011). A análise, feita no programa computacional PRAAT (BOESMA; WEENICK, 2015), verificou os parâmetros acústicos de frequência fundamental (F0), pausa e duração em estruturas desgarradas e em estruturas anexadas formalmente à oração matriz, a fim de que se pudesse proceder à comparação dos dados. Os resultados revelam que o “contorno final” e a presença de pausa, descritos por Decat (2011) como possivelmente caracterizadores de cláusulas desgarradas, são traços comuns em todas as estruturas analisadas e não evidenciam, fonologicamente, o desgarramento. Entretanto, uma maior duração das pausas antes das desgarradas pode ser indício de uma estrutura sintaticamente diversa.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Ana Carolina Barros Gonçalves, Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)

Graduanda em Letras - Português/Literaturas pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Aline Ponciano dos Santos Silvestre, Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)

Doutora e mestra em Língua Portuguesa pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com estágio doutoral na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (U.Lisboa); graduada em Letras - Português/Literaturas pela mesma instituição. É professora do Departamento de Letras Vernáculas da Faculdade de Letras da UFRJ.

Referências

BOESMA, P.; WEENICK, D. Praat: doing phonetics by computer [programa de computador]. Versão 5.4.08. Amsterdam: Universiteit van Amsterdam; 2015. [citado 16 abr. 2015]. Disponível em: www.praat.org.

CASTELO, J. Entoação dos enunciados declarativos e interrogativas no português do Brasil: uma análise fonológica ao longo da costa atlântica. 2016. Tese - Faculdade de Letras, Universidade de Lisboa, Lisboa, 2016.

CHAFE, W. L. The deployment of consciousness in the production of a narrative. In: CHAFE, W. L (Ed.). The Pear Stories: cognitive, cultural, and linguistic aspects of narrative production. Norwood: Ablex; 1980.

CHAFE, W. L. Discourse, consciousness, and time: the flow and displacement of conscious experience in speaking and writing. Chicago: The University of Chicago Press, 1994.

CUNHA, C. S. Entoação regional no português do Brasil. 2000. Tese - Faculdade de Letras, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2000.

DECAT, M. B. N. Por uma abordagem da (in)dependência de cláusulas à luz da noção de ‘unidade informacional’. Scripta, v. 2, n. 4, p. 23-38, 1999.

DECAT, M. B. N. A função focalizadora de estruturas “desgarradas” no português falado e escrito: um estudo funcionalista de orações em sua ocorrência como enunciado independente. In: SIMPÓSIO MUNDIAL DE ESTUDOS DE LÍNGUA PORTUGUESA, 2, 2009, Évora. Anais... Évora, 2009. p.114-134.

DECAT, M. B. N. Estruturas Desgarradas em Língua Portuguesa. Campinas: Pontes Editora, 2011.

FERNANDES-SAVARTMAN, F. R. Ordem, focalização e preenchimento em português: sintaxe e prosódia. 2007. Tese - Instituto de Estudos da Linguagem, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2007.

FERNANDES-SAVARTMAN, F. R. A entoação das sentenças clivadas em Português Brasileiro e a interface sintaxe-fonologia. Filologia e Linguística Portuguesa, v. 14, n. 1, 2012.

LADD, R. Intonational phonology. Cambrige: Cambridge University Press, 2008.

MOARES, J.; ORSINI, M. Análise prosódica das construções de tópico no português do Brasil: estudo preliminar. Letras Hoje, Porto Alegre, v. 38, n. 4, p. 261-272, 2003.

NEVES, M. H. M. As construções causais. In: NEVES, M. H. M. (Org.). Gramática do português falado. v. 7. São Paulo: Humanitas/FFLCH/USP; Campinas: Editora da Unicamp, 1999.

RODRIGUES, V. V. Desgarramento de cláusulas em português: usos e descrição. São Paulo: Blucher, 2019.

SERRA, C. R. Realização e percepção de fronteiras prosódicas no português do Brasil: fala espontânea e leitura. 2009. Tese - Faculdade de Letras, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2009.

SILVESTRE, A. P. S.; RODRIGUES, V. V. O 'Desgarramento' de cláusulas comparativas e a interface sintaxe-prosódia. In: JORNADA NACIONAL DO GELNE, 25, 2014, Natal. Anais da XXV Jornada Nacional do GELNE. Natal: Editora da Universidade Federal do Rio Grande do Norte - EDUFRN, 2014. p. 1-11.

SILVESTRE, A. P. S. Contributos do estudo sobre o desgarramento na língua falada para a descrição do fraseamento prosódico no Português Brasileiro. Filologia E Linguística Portuguesa, v. 20, n. esp., p. 71-94.

SILVESTRE, A. P. S. “Se eu pudesse e se o meu dinheiro desse...”: desgarramento e prosódia no Português Brasileiro e no Português Europeu. 2017. Tese (Doutorado em Língua Portuguesa) – Faculdade de Letras, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2017.

SILVESTRE, A. P. S. A entoação regional dos enunciados assertivos nos falares das capitais brasileiras. 2012. Dissertação (Mestrado em Língua Portuguesa) – Faculdade de Letras, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2012.

STEIN, C. C. A pré-indicação prosódica para as orações subordinadas adverbiais no português brasileiro e no francês. 2008. Tese (Doutorado em Língua Portuguesa) – Faculdade de Letras, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2008.

YANO, C.; FERNANDES-SVARTMAN, F. Um estudo preliminar sobre a prosódia de construções com tópico e foco no português paulista. Entrepalavras, Fortaleza, v. 10, n. 1, p. 256-282, 2020.

TENANI, L. E. Pausa é vírgula? Vírgula é pausa? Pausa não necessariamente implica vírgula na escrita. Revista Roseta, 2020. Disponível em: http://www.roseta.org.br/pt/2020/05/06/pausa-e-virgula-virgula-e-pausa/.

Downloads

Publicado

14-10-2020