Uma análise do significado social da mesóclise em textos da esfera jornalística capixaba
DOI:
https://doi.org/10.47456/cl.v16i34.38349Palavras-chave:
Sociolinguística, mesóclise, esfera jornalística, variação estilísticaResumo
Apesar de a mesóclise não ser totalmente vigorosa no PB, como uma variante disponível no vernáculo dos falantes, sua presença em textos escritos da esfera jornalística não é desprezível. Neste trabalho, analisamos qualitativamente textos publicados no jornal A Gazeta, o mais influente do Espírito Santo, de setembro a novembro de 2012, nos quais encontramos uma recorrência de 35,7% dessa colocação (5 dados) nos contextos em que é possível sua emergência (tempos do futuro, sem contextos antecedentes categóricos ou semicategóricos: palavra negativa, pronome relativo/focalizador, palavras Qu- interrogativas e sujeitos quantificados). O emprego da mesóclise, de acordo com nossa análise, está associado a significados sociais de conservadorismo, rebuscamento, erudição e domínio de conhecimentos especializados, embora significados sociais negativos também possam estar indexados. Os modelos teóricos que fundamentam as análises aqui propostas são (i) a Sociolinguística Variacionista, especialmente na abordagem estilística de speaker design (ECKERT, 2001; WOLFRAM; SCHILLING, 2016[1998]); (ii) estudos de texto e discurso, nomeadamente as propostas de Adam (2019[1992]), sobre a categorização de sequências discursivas, e do Círculo de Bakhtin (VOLÓCHINOV, 2017[1929]; BAKHTIN, 2011[1953]) a respeito da enunciação enquanto ação discursiva dialógica e da noção de esferas da atividade humana como instâncias sociais hierárquicas organizadoras do discurso.
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