“Aonde eu sou cria ninguém gosta de racista”
as letras de rap e a Linguística Aplicada Transgressiva na ressignificação de expressões racistas
DOI:
https://doi.org/10.47456/rctl.v19i42.48234Palavras-chave:
Racismo linguístico, Rap, Linguística aplicada transgressiva, Colonialidades da linguagem, Antropologia linguísticaResumo
O presente trabalho visa evidenciar o papel das letras de músicas de rap na ressignificação de termos que foram amplamente utilizados em contextos sociais e discursivos de racismo, caracterizando o gênero musical como prática da Linguística Aplicada Transgressiva (LAT) (Pennycook, 2006) por excelência. A partir dos construtos entextualização, indexicalidade e ideologias linguísticas, oriundos da Antropologia Linguística (Moita Lopes; Gonzalez; Melo; Guimarães, 2022) e dos aportes teóricos “Entextualização e Indexicalidade de Dentro para Fora” e “Entextualização e Indexicalidade de Fora Para Dentro (Rocha da Silva, 2024), serão analisados os usos das palavras “cria” e “neguinha” — localizadas e selecionadas a partir da ferramenta de busca da Hemeroteca Digital — em anúncios de compra e venda de pessoas escravizadas, datados do século 18, e em letras de rap de épocas atuais, a fim de observar os sentidos que as palavras atribuem em diferentes períodos, além de analisar se estes aludem ao racismo. A partir de definições dicionarizadas, presentes em dicionários do passado e do presente, será feita uma análise comparativa dos sentidos dicionarizados com os utilizados em letras de rap, a fim de observar se apresentam alguma distinção semântica e contextual, além observar como o rap é um aliado na luta antirracista no âmbito da linguagem. Como resultado, evidenciou-se que palavras não são por si só racistas, mas sim utilizadas por pessoas racistas para reproduzir seus preconceitos. Além disso, a pesquisa também destacou o papel fundamental das letras de rap na luta contra o racismo linguístico, sendo práticas concretas da Linguística Aplicada Transgressiva (Pennycook, 2006).
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