A interpretação de enunciados pressuposicionais por adultos com autismo
DOI:
https://doi.org/10.47456/rctl.v19i42.48276Palavras-chave:
Pressuposição, Autismo, Pragmática, Experimento psicolinguísticoResumo
Inserindo-se no debate acerca da relação entre pragmática e autismo, este estudo investiga como autistas adultos lidam com estruturas que contêm gatilhos de pressuposição. Em primeiro lugar, hipotetizamos que pessoas com autismo enfrentam mais dificuldades na compreensão desses enunciados do que pessoas neurotípicas. Em segundo lugar, a partir da análise semântico-pragmática da Construção de Contraexpectativa com Bem (CCB), hipotetizamos que exista um novo tipo de pressuposição, chamado pressuposição de expectativa. Segundo nossa proposta, haveria diferenças de processamento entre a pressuposição de expectativa e a pressuposição de conhecimento, de modo que a primeira seria mais desafiadora, em termos de interpretação. Para testar essas hipóteses, realizou-se um experimento psicolinguístico com participantes autistas e neurotípicos. O experimento envolveu dois tipos de gatilhos de pressuposição: a CCB (exemplo de disparador de pressuposição de expectativa) e verbos de mudança de estado (VME; exemplo de disparador de pressuposição de conhecimento). Os resultados validaram nossa primeira hipótese, indicando que pessoas com autismo apresentam atipicidades na compreensão de sentenças pressuposicionais, em comparação com indivíduos neurotípicos. A segunda hipótese, no entanto, não se confirmou, uma vez que os dados revelaram maior dificuldade de processamento em enunciados com VME do que com a CCB – o que, embora vá de encontro com a previsão inicial, ainda nos permite defender a proposta acerca da existência da pressuposição de expectativa.
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