Vozes em confronto
Erika Hilton, o casamento gay e a desterritorialização de discursos niilistas no Parlamento
DOI:
https://doi.org/10.47456/rctl.v19i43.48608Palavras-chave:
Casamento gay, PPosicionamento Axiológico, Responsabilidade, Sujeito, Érika Hilton.Resumo
Este artigo investiga os posicionamentos axiológicos da Deputada Erika Hilton (Psol) na Câmara dos Deputados, enfatizando sua atuação como força discursiva que desterritorializa discursos niilistas e conservadores hegemônicos — especialmente os enraizados no fundamentalismo cristão. Ao reacentuar ideologias que negam a existência e os direitos da população LGBTQIAPN+, Hilton rompe com pactos velados de exclusão e insere no espaço institucional um discurso politicamente performativo que reivindica o direito ao casamento gay. Fundamentado em abordagem qualitativa, o estudo analisa os posicionamentos axiológicos assumidos por Hilton em uma sessão solene na Câmara dos Deputados, ao confrontar a retórica ultraconservadora, e busca subsídio teórico em Bakhtin, Volóchinov e Medviédev, bem como em Butler e Preciado. A pesquisa articula também o marco legal da criminalização da homofobia como forma de situar a potência jurídica e simbólica da atuação de Hilton. Os resultados evidenciam como sua presença discursiva reconfigura os sentidos estabilizados da velha política, instaurando uma ética da responsabilidade e da alteridade. Ao desestabilizar enunciados normativos de apagamento, silenciamento e extermínio de corpos infames, Hilton constrói um horizonte político inclusivo, reafirmando a linguagem como território de disputa e transformação social.
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