Desafricanizar o Egito, embranquecer Cleópatra: silêncios epistêmicos nas leituras eurocêntricas sobre o Egito em manuais escolares de História no PNLD 2018

Autores

  • Anderson Ribeiro Oliva

DOI:

https://doi.org/10.17648/rom.v0i10.18970

Palavras-chave:

Egito Antigo, Afrocentrismo, Livros didáticos, Silêncio epistêmico

Resumo

O artigo tenciona refletir sobre as narrativas produzidas em livros didáticos de História acerca dos sentidos e marcos civilizatórios africanos associados ao antigo Egito. A primeira parte do texto reserva uma (re)visita a alguns autores que discutem o assunto a partir da perspectiva africana e das teses do afrocentrismo e da afrocentricidade, como Théophile Obenga, Babacar Sall, Aboubacry Moussa Lam e Molefi Kete Asante. Dialogo também com as leituras que problematizam a questão da africanidade do Egito Antigo, mas sem seguir uma filiação afrocêntrica, a partir de autores como Elikia M’Bokolo e Ella Shohat. Por fim, como objetivo principal do ensaio, analisei um conjunto formado por três livros didáticos de História destinados ao ensino médio, aprovados no PNLD de 2018. A intenção foi perceber se os autores desses manuais compartilharam os olhares eurocentrados, marcados pela lógica moderna/colonial/racista sobre essa civilização antiga, ou se, em seus textos, enuncia-se uma crítica descentrada e atenta ao protagonismo histórico das sociedades africanas.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Referências

Livros didáticos

BOULOS JÚNIOR, A. História. sociedade e cidadania. São Paulo: FTD, 2011.

______. História, sociedade e cidadania. São Paulo: FTD, 2012. v. 6

______. História, sociedade e cidadania. São Paulo: FTD, 2016. v. 1.

BRAICK, P.; MOTA, M. B. História: das cavernas ao Terceiro Milênio. São Paulo: Moderna, 2016. v. 1.

COTRIM, G. História global: Brasil e Geral. São Paulo: Saraiva, 2016. v. 1.

Obras de apoio

ANTA DIOP, Ch. A. A origem dos antigos egípcios. In: MOKHTAR, G. (Org.). História Geral da África: a África antiga. Brasília: Unesco, 2010, p. 1-36. v. 1.

______. A unidade cultural da África negra: esferas do patriarcado e do matriarcado na Antigüidade Clássica. Luanda: Mulemba, 2014.

ASANTE, M. K. Afrocentricidade: notas sobre uma posição disciplinar. In: NASCIMENTO, E. L. (Org.). Afrocentricidade. São Paulo: Selo Negro, 2009, p. 93-110.

BAKR, A. A. O Egito faraônico. In: MOKHTAR, G. (Org.). História Geral da África: a África antiga. Brasília: Unesco, 2010, p. 37-67. v. 1.

BARBOSA, M. S. Pan-africanismo e teoria social: uma herança crítica. África, v. 31-32, p. 135-155, 2011/2012.

BORGES, J. A. Ambígua África, memórias e representações da África Antiga no livro didático: Egito, reino e impérios africanos. 2009. Dissertação (Mestrado em Memória: Linguagem e Sociedade) – Programa de Pós-Graduação em Memória: Linguagem e Sociedade, Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, Vitória da Conquista, 2009.

BOULOS JÚNIOR, A. Imagens da África, dos africanos e de seus descendentes em coleções de didáticos de História aprovadas no PNLD de 2004. Tese (Doutorado em Educação) – Programa de Pós-Graduação em Educação, Pontifícia Universidade Católica, São Paulo, 2008.

BRASIL. PNLD 2018: História. Guia de livros didáticos, Ensino Médio. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2017.

CAIMI, F. E.; ROCHA, H. A(s) história(s) contada(s) no livro didático hoje: entre o nacional e o mundial. Revista Brasileira de História, v. 34, n. 68, p. 125-147, 2014.

DIOP, B. M.; DIENG, D. A consciência histórica africana. Luanda: Mulemba, 2014.

FANON, F. Os condenados da Terra. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1968.

______. Pele negra, máscaras brancas. Salvador: EDUFBA, 2008.

FARIAS, P. F. de M. Afrocentrismo: entre uma contra-narrativa histórica universalista e o relativismo cultural. Revista Afro-Ásia, n. 29-30, p. 317-343, 2003.

FIGUEIREDO, Â.; GROSFOGUEL, R. Racismo à brasileira ou racismo sem racistas: colonialidade do poder e a negação do racismo no espaço universitário. Sociedade e Cultura, v. 12, n. 2, p. 223-234, 2009.

GARRIDO, M. História que os livros didáticos contam depois do PNLD: História da África e dos afro-brasileiros por intermédio dos editais de convocação do PNLD (2007-2011). História e Perspectivas, n. 54, p. 239-268, 2016.

GROSFOGUEL, R. A estrutura do conhecimento nas universidades ocidentalizadas: racismo/sexismo epistêmico e os quatro genocídios/epistemicídios do longo século XVI. Revista Sociedade e Estado, v. 31, n. 1, p. 31-49, 2016.

______. La descolonización del conocimiento: diálogo crítico entre la visión descolonial de Frantz Fanon y la sociología descolonial de Boaventura de Sousa Santos. Formas-Otras, n. 1, p. 97-108, 2011.

LAM, A. M. Egipto antigo e África negra: alguns factores novos que esclarecem as suas relações. In: DIOP, B. M.; DIENG, D. (Org.). A consciência histórica africana. Luanda: Mulemba, 2014, p. 143-157.

M’BACKÉ DIOP, Ch. Cheikh Anta Diop: o homem e a obra. In: DIOP, B. M.; DIENG, D. (Org.). A consciência histórica africana. Luanda: Mulemba, 2014, p. 87-110.

M’BOKOLO, E. África negra: história e civilizações. Até ao século XVIII. Lisboa: Vulgata, 2003.

MALDONADO-TORRES, N. Sobre la colonialidad del ser: contribuciones al desarrollo de un concepto. In: CASTRO-GÓMEZ, S.; GROSFOGUEL, R. (Org.). El giro decolonial. Bogotá: Instituto de Estudios Sociales Contemporáneos, 2007.

MBEMBE, A. Crítica da razão negra. Lisboa: Antígona, 2014a.

______. Sair da grande noite: ensaio sobre a África descolonizada. Luanda: Mulemba, 2014b.

MUDIMBE, V. Y. A ideia de África. Luanda: Mulemba, 2013.

NASCIMENTO, E. L. Afrocentricidade: uma abordagem epistemológica inovadora. São Paulo: Selo Negro, 2009.

OBENGA, Th. O sentido da luta contra o africanismo eurocentrista. Luanda: Mulemba, 2013.

OLIVA, A. R. A África como berço da humanidade. O debate sobre a “anterioridade” africana e seus reflexos nos livros didáticos brasileiros. In: CAMPOS, A. P.; SILVA, G. V. da (Org.). Os reinos africanos na antiguidade e na idade média. Vitória: GM, 2011, p. 7-23.

______. A história da África nos bancos escolares. Representações e imprecisões na literatura didática. Estudos Afro-Asiáticos, n. 3, p. 421-461, 2003.

______. Lições sobre a África: diálogos entre as representações dos africanos no imaginário ocidental e o ensino da História da África no Mundo Atlântico (1990-2005). Tese (Doutorado em História Social) – Programa de Pós-Graduação em História, Universidade de Brasília, Brasília, 2007.

______. Uma história esquecida. A abordagem da África Antiga nos manuais escolares de História: estudos de caso no Brasil e em Portugal (1990-2005). Em Tempo de Histórias, v. 12, p. 184-200, 2008.

OLIVEIRA, S. R. de. Ensino de história das mulheres: reivindicações, currículos e potencialidades. In: STEVENS, C.; OLIVEIRA, S. R. de; ZANELLO, V. (Org.). Estudos feministas e de gênero. Santa Catarina: Mulheres, 2014, p. 277-291.

PAIVA, V. A. da S. Egito como componente curricular de História: desafios e possibilidades no ensino de História da África. Dissertação (Mestrado em História) – Programa de Pós-Graduação em História, Universidade Federal de Goiás, Catalão, 2016.

PAULINO DA SILVA, C. F. A construção da imagem de Otávio, Cleópatra e Marco Antônio entre moedas e poemas (44 a 27 a.C.). Dissertação (Mestrado em História) – Programa de Pós-Graduação em História Social das Relações Políticas, Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória, 2014.

REIS, R. B. Reivindicações pela origem: a apropriação do Egito Antigo pelo discurso pan-africano. Cadernos CESPUC, n. 20, p. 87-94, 2010.

ROCHA DA SILVA, T. R. O sorriso da esfinge: reflexões sobre o ensino do Egito antigo no Brasil. In: LEMOS, R. S. (Org.). O antigo Egito: novas contribuições brasileiras. Rio de Janeiro: Multifoco, 2014, p. 279-299.

SALL, B. Estado das investigações acerca da Antiguidade africana. In: DIOP, B. M.; DIENG, D. (Org.). A consciência histórica africana. Luanda: Mulemba, 2014, p. 141-215.

SHOHAT, E. Des-orientar Cleópatra: um tropo moderno da identidade. Cadernos Pagu, n. 23, p. 11-54, 2004.

SOUZA, R. S. A Cleópatra de Mankiewicz (1963): imperialismo, eurocentrismo e etnicidade na representação cinematográfica da Antiguidade. Estudos de Egiptologia, n. 2, p. 158-163, 2015.

______. Cleópatra e o cinema hollywoodiano na primeira metade do século XX. Revista Mundo Antigo, v. 3, n. 5, p. 99-119, 2014.

Downloads

Publicado

30-12-2017

Como Citar

OLIVA, Anderson Ribeiro. Desafricanizar o Egito, embranquecer Cleópatra: silêncios epistêmicos nas leituras eurocêntricas sobre o Egito em manuais escolares de História no PNLD 2018. Romanitas - Revista de Estudos Grecolatinos, [S. l.], n. 10, p. 26–63, 2017. DOI: 10.17648/rom.v0i10.18970. Disponível em: https://periodicos.ufes.br/romanitas/article/view/18970. Acesso em: 28 mar. 2024.

Edição

Seção

Dossiê: O estudo da África Antiga: perspectivas de investigação