'Physiognomonia' e cultura visual
o arquétipo do 'vir rusticus' no mosaico da 'Villa dos Laberii', na África Proconsular (séc. II-III d.C.)
DOI:
https://doi.org/10.29327/2345891.23.23-8Palavras-chave:
África Romana, Mosaicos, Physiognomonia, estigmatizaçãoResumo
A physiognomonia foi a crença de que o corpo de um indivíduo traduz sua natureza interna. Neste artigo, discutimos como essa crença pode ser notada na construção do arquétipo do “homem rústico” – vir rusticus – no mosaico da Villa dos Laberi, datado dos séculos II-III, em Uthina, cidade da África Proconsular. Este mosaico registra cenas de trabalho agrário executadas pelos estratos subalternos. Diante disso, analisamos como esses trabalhadores rurais, de perfis diversos, tiveram suas identidades reduzidas a um único estereótipo de homem não civilizado, identificado pela aparência degradada e pelo caráter vicioso. Ao analisar o mosaico à luz das descrições de Apuleio, e do tratado de Physiognomonia de Polemon de Laodiceia, propomos que o vir rusticus constituiu uma alteridade à identidade da aristocracia norte-africana, que teve a aparência física, desde os cuidados com o corpo, postura e vestimentas, como expressão de humanitas, em oposição à rusticidade dos setores inferiorizados.
Downloads
Referências
Documentação textual
ADAMANTIUS. The physiognomy of Adamantius the Sophist. Translated by Ian Repath. In: SWAIN, S. et al. Seeing the face, seeing the soul: Polemon’s physiognomy from Classical Antiquity to Medieval Slam. Oxford: Oxford University Press, 2007.
AELIUS ARISTIDES. Discours sacrés: rêve, religion, médecine au IIe Siècle après J.C. Traduit par A.-J. Festugière. Paris: Macula, 1986
AGOSTINHO. A doutrina cristã: manual de exegese e formação cristã. Paulus: São Paulo, 2002.
ANÔNIMO LATINO. De Physiognomonia Liber. In: RODOLPHO, M. De Physiognomonia Liber: considerações a respeito do ethos e da fisiognomonia em textos da Antiguidade Clássica. Tese (Doutorado em Letras Clássicas) – Programa de Pós-Graduação em Letras Clássicas da Universidade de São Paulo, São Paulo, 2015.
ANONYMUS LATINUS. Book of Physiognomy. Translated by Ian Repath. In: SWAIN, S. et al. Seeing the face, seeing the soul: Polemon’s physiognomy from Classical Antiquity to Medieval Slam. Oxford: Oxford University Press, 2007.
APULEIO. O asno de ouro. Tradução, prefácio e notas de Ruth Guimarães. São Paulo: Editora 34, 2019.
APULEIUS. Metamorphoses: books I-VI. Translated and introduction by J. Arthur Hanson. London: Harvard University Press, 1989.
APULEIUS. Metamorphoses: books VII-XI. Translated by J. Arthur Hanson. London: Harvard University Press, 1989.
APULEIUS. The Apologia and Florida of Apuleius of Madaura. Translated by H. E. Butler. Oxford: Clarendon Press, 1909.
APULEYO. Obra filosófica. Introducción, traducciones y notas de Cristóbal Macías Villalobos. Madrid: Gredos, 2011.
ARISTÓTELES. Política. Tradução, introdução e notas de Mário da Gama Kury. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1988.
BÍBLIA. Português. Bíblia de Jerusalém. São Paulo: Paulus, 2002.
FILÓSTRATO. Vidas de los sofistas. Introdução, tradução y notas de María Concepción Giner Soria. Madrid: Gredos, 1982.
HIPÓCRATES DE CÓS. Tratados hipocráticos: epidemias. Traducciones, introducciones y notas de Alicia Esteban Santos, Elsa Garcia Novo, Beatriz Cabellos Álvarez. Madrid: Gredos, 1983.
HOMERO. Ilíada. Tradução de Frederico Lourenço. São Paulo: Companhia das Letras, 2003.
PLATÃO. A República. Introdução, tradução e notas de Maria Helena da Rocha Pereira. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1949.
PLINY THE ELDER. Natural history. Translated by John F. Healy. New York: Penguin Books, 2004.
PLUTARCO. Vidas paralelas: Alcibíades e Coriolano. Tradução do grego, introdução e notas Maria do Céu Fialho e Nuno Simões Rodrigues. Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra, 2012.
POLEMON. A new edition and translation of the Leiden Polemon. Translated by Robert Hoyland. In: SWAIN, S. et al. Seeing the face, seeing the soul: Polemon’s physiognomy from Classical Antiquity to Medieval Slam. Oxford: Oxford University Press, 2007.
POMPONIUS MELA. Description of the world. Translated by E. F. Romer. Michigan: The University of Michigan Press, 2001.
SUETÔNIO. A Vida dos Doze Césares. Tradução por Sady-Garibaldi. São Paulo: Prestígio Editorial, 2002.
Documentação arqueológica
ABED, A. B. (ed.). Stories in stone: conserving mosaics of Roman Africa. Los Angeles: Getty Publications, 2006.
FANTAR, M. H. (éd). La mosaique en Tunisie. Paris: CNRS Editions, 1994.
PUECH, B. Orateurs et sophistes grecs dans les inscriptions d ’époque impériale. Paris: Librairie Philosophique, 2002.
ROMAN Provincial Coinage Online. Código: RPC III, 1972. Disponível em: https://rpc.ashmus.ox.ac.uk/coins/3/1972. Acesso em: 20 jan. 2024.
Obras de apoio
ARNAUD-PORTELLI, A. Carthage, le fonctionnement d’une metrópole régionale à l’époque romaine. Cahiers de la Mediterranée, n. 64, p. 23-37, 2002.
BUSTAMANTE, R. M. C. Representação do espaço rural em dois mosaicos norte-africanos: Laberii e dominus Iulius. Phoinix, n. 8, p. 328-358, 2002.
CASSON, L. Bibliotecas no mundo antigo. São Paulo: Vestígio, 2018.
CERQUEIRA, F. V. A narrativa da contenda musical entre Apolo e Marsias. Phoînix, n. 20, p. 81-111, 2014.
CHEVITARESE, A. L.; ANDRADE, A. M.; BUSTAMANTE, R. M. C. Imagens de caça na Antiguidade Clássica: entre a cidade e o campo. Phoinix, n. 12, p. 46-86, 2006.
ELIAS, N.; SCOTSON, J. L. Os estabelecidos e os outsiders: sociologia das relações de poder a partir de uma pequena comunidade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2000.
GAISSER, J. H. The fortunes of Apuleius and the ‘Golden Ass’. New York: Princeton University Press, 2008.
GREENHILL, W. A. Adamantius. In: SMITH, W. (ed.). Dictionary of Greek and Roman biography and mythology. Boston: Little Brown, 1867.
GRÜNEWALD, T. Bandits in the Roman Empire: myth and reality. London: Routledge, 2004.
GUARINELLO, N. História Antiga. São Paulo: Contexto, 2013.
GUERRA, L. G. O Asclepeion de Pérgamo no século II E.C. como lugar de interpenetrações temporais, espaciais e identitárias. Romanitas, n. 5, p. 112-130, 2015.
GUIMARÃES, R. Apresentação e notas. In: APULEIO. O asno de ouro. São Paulo: Editora 34, 2019.
GLARE, P. G. W. Oxford Latin dictionary. Oxford: Oxford University Press, 1968.
HARRISON, S. J. Apuleius: a Latin sophist. New York: Oxford University Press, 2000.
HOYLAND, R. G. Polemons encounter with Hippocrates and the status of Islamic physiognomy. Jerusalem Studies in Arabic and Islan, n. 32, p. 311-326, 2006.
HOYLAND, R. A new edition and translation of the Leiden Polemon. In: SWAIN, S. et al. Seeing the face, seeing the soul: Polemon’s physiognomy from Classical Antiquity to Medieval Slam. Oxford: Oxford University Press, 2007.
HUNINK, V. Apuleius, Florida IX. Hermes, n. 123, v. 3, p. 382-384, 1995.
KAROL, L. De Deo Socratis: a demonologia no contexto do Império Greco-Romano. Tese (Doutorado em Letras Clássicas) – Programa de Pós-Graduação em Letras Clássicas da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2016.
KORMIKIARI, M. C. N. Norte da África na Antiguidade: os reis berberes númidas e suas iconografias monetárias. Revista do Museu de Arqueologia e Etnologia, v. 17, p. 251-292, 2007.
LIMA NETO, B. M. Bandidos e elites citadinas na África romana: um estudo sobre a formação de estigmas com base nas Metamorphoses de Apuleio de Madaura (século II). Vitória: EDUFES, 2014.
LIMA NETO, B. M. Itinerário extramuros de Lúcio-Asno nas ‘Metamorphoses’, de Apuleio: topofobias na África romana (séc. II d.C.). Romanitas, n. 18, p. 84–102, 2021.
LIMA NETO, B. M.; PINA, E. N. As laudationes de Apuleio de Madaura à luz da cultura material: a territorialização do teatro de Cartago como espaço de poder do orador e do filósofo (séc. II d.C.). Dimensões, n. 9, p. 144-166, 2022.
MAUSS, M. As técnicas do corpo. In: MAUSS, M. Sociologia e Antropologia. São Paulo: Cosac Naify, 2003, p. 399-420.
OLIVEIRA, J. C. M. Sociedade e cultura na África romana: oito ensaios e duas traduções. São Paulo: Intermeios, 2020.
POSSAMAI, P. C. Sexo e poder na Roma Antiga: o homoerotismo nas obras de Marcial e Juvenal. Bagoas, n. 5, p. 80-94, 2010.
ROOM, A. Room’s classical dictionary. London: Routledge, 1983.
RIVES, J. B. Legal strategy and learned display in Apuleius’ Apology. In: RIESS, W. (ed.). Paideia at play: learning and wit in Apuleius. Groningen: Groningen University Library, 2008, p. 17-50.
SCHMITZ, T. A. The Second Sophistc. In: PEACHIN, M. (ed.). The Oxford handbook of social relations in the Roman world. Oxford: Oxford University Press, 2011, p. 305-318.
SILVA, G. V. da. Artes do fazer e usos do saber no Império Romano: ‘lendo’ os mosaicos de Antioquia. Acta Scientiarum Education, v. 38, n. 3, p. 219-229, 2016.
SWAIN, S. Appendix: The physiognomy attributed to Aristotle. In: SWAIN, S. et al. Seeing the face, seeing the soul: Polemon’s physiognomy from Classical Antiquity to Medieval Slam. Oxford: Oxford University Press, 2007.
THÉBERT, Y. Vida privada e arquitetura doméstica na África Romana. In: VEYNE, P. (org.). História da vida privada: do Império Romano ao ano mil. São Paulo: Companhia das Letras, 2009, p. 301-398.
VEYNE, P. Humanitas: romanos e não romanos. In: GIARDINA, A. O homem romano. Lisboa: Presença, 1992, p. 281-302.
VIEIRA, A. L. B. A métis grega, a caça perfeita e a pesca ou “como não ser um dissimulador”. Mundo Antigo, v. 6, n. 12, p. 57-77, 2017.
WALSH, P. G. The Roman novel. London: Bristol Classical, 1995.
WOODWARD, K. Identidade e diferença: uma introdução teórica. In: SILVA, T. T da. (org.). Identidade e diferença: a perspectiva dos estudos culturais. Petrópolis: Vozes, 2014, p. 7-72.
ZULUAGA, I. G. Historia de la educación. Madrid: Narcea, 1972.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2024 Edjalma Nepomoceno Pina

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
a. Os autores mantêm os direitos autorais e concedem à revista o direito de primeira publicação.
b. Os autores têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não-exclusiva da versão do trabalho publicada nesta revista (ex.: publicar em repositório institucional ou como capítulo de livro), com reconhecimento de autoria e publicação inicial nesta revista.
c. Autores têm permissão e são estimulados a publicar e distribuir seu trabalho online (ex.: em repositórios institucionais ou na sua página pessoal) após a primeira publicação pela revista, com os devidos créditos.
d. Os textos da revista estão licenciados com uma Licença CC BY 4.0 Deed Atribuição 4.0 Internacional (CC BY).