O discurso de apologia à ditadura militar nas mídias digitais
entre o silenciamento e a equivocidade de sentidos
DOI:
https://doi.org/10.47456/cl.v17i37.41762Palavras-chave:
discurso da Ditadura Militar, arquivos subterrâneos, silenciamento, equivocidade de sentidosResumo
Embora, na conjuntura da década de 1990, a democracia no Brasil estivesse se consolidando, o discurso da ditatura militar brasileira ainda continuava circulando e produzindo efeitos de sentido, principalmente, em programas televisivos e em jornais. A fim de compreender esse processo, sob a ótica da Análise de Discurso preconizada por Michel Pêcheux (1969; 1975; 1983), objetivamos analisar a circulação e o funcionamento do discurso militarista-ditatorial, após o fim do regime militar no Brasil (1964-1985). Para a constituição do corpus, apresentamos sete sequências discursivas compostas por um recorte de trechos de um vídeo publicado no YouTube, em 2016, com uma entrevista do então deputado federal Jair Bolsonaro a um programa de TV exibido em 1999, além de um recorte de comentários de internautas sobre o respectivo vídeo. As análises mostram que a circulação do discurso na internet atualiza a memória do discurso militarista-ditatorial e instaura o acontecimento discursivo, sob as condições de produção/circulação do discurso digital, com efeitos parafrásticos e polissêmicos. Observamos o funcionamento de um jogo metafórico em torno da significação de democracia, ditadura e revolução, processo que mobiliza diferentes redes de memórias, instaura o silenciamento e uma disputa de sentidos e de posições-sujeito.
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