Violência obstétrica em uma perspectiva interseccional

revisão narrativa

Autores

  • Poliana do Rosário
  • Daniela Vieira Malta Universidade Federal do Espírito Santo
  • Dherik Fraga Santos Universidade Federal de Catalão
  • Eliane Maura Littig Milhomem de Freitas Faculdade Unida de Vitória

DOI:

https://doi.org/10.47456/rbps.v27isupl_2.48420

Palavras-chave:

Violência obstétrica, Interseccionalidade, Racismo institucional

Resumo

Introdução: A violência obstétrica é uma questão de saúde pública, e aprofundar o estudo sobre este fenômeno é um dos caminhos para enfrentá-lo. Consiste em uma apropriação desumanizada do corpo e dos processos reprodutivos das mulheres por profissionais de saúde. Apesar disso, a vivência e as consequências desse tipo de violência não afetam todas as mulheres de forma igualitária. Objetivo: Compreender a violência obstétrica contra mulheres negras a partir da abordagem interseccional, considerando que a interseccionalidade envolve a interação entre dois ou mais eixos de subordinação/discriminação, como o racismo, o patriarcado e a desigualdade social. Métodos: Foi realizada uma revisão narrativa da literatura, analisando artigos publicados nas bases de dados científicas nos últimos 10 anos que abordavam essa temática. Resultados: A pesquisa constatou que mulheres negras são as principais vítimas da violência obstétrica, sendo a análise interseccional essencial para entender a magnitude dessa vitimização. A violência obstétrica contra mulheres negras extrapola a questão de gênero, envolvendo também fatores de raça e classe social. Conclusão: Conclui-se que ser negra e pobre no Brasil aumenta a vulnerabilidade à violência obstétrica, evidenciando o racismo institucional presente nos diversos serviços de saúde.

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Publicado

06.05.2025

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1.
Violência obstétrica em uma perspectiva interseccional: revisão narrativa. RBPS [Internet]. 6º de maio de 2025 [citado 20º de junho de 2025];27(supl_2):137-46. Disponível em: https://periodicos.ufes.br/rbps/article/view/48420

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