Violência obstétrica em uma perspectiva interseccional
revisão narrativa
DOI:
https://doi.org/10.47456/rbps.v27isupl_2.48420Palavras-chave:
Violência obstétrica, Interseccionalidade, Racismo institucionalResumo
Introdução: A violência obstétrica é uma questão de saúde pública, e aprofundar o estudo sobre este fenômeno é um dos caminhos para enfrentá-lo. Consiste em uma apropriação desumanizada do corpo e dos processos reprodutivos das mulheres por profissionais de saúde. Apesar disso, a vivência e as consequências desse tipo de violência não afetam todas as mulheres de forma igualitária. Objetivo: Compreender a violência obstétrica contra mulheres negras a partir da abordagem interseccional, considerando que a interseccionalidade envolve a interação entre dois ou mais eixos de subordinação/discriminação, como o racismo, o patriarcado e a desigualdade social. Métodos: Foi realizada uma revisão narrativa da literatura, analisando artigos publicados nas bases de dados científicas nos últimos 10 anos que abordavam essa temática. Resultados: A pesquisa constatou que mulheres negras são as principais vítimas da violência obstétrica, sendo a análise interseccional essencial para entender a magnitude dessa vitimização. A violência obstétrica contra mulheres negras extrapola a questão de gênero, envolvendo também fatores de raça e classe social. Conclusão: Conclui-se que ser negra e pobre no Brasil aumenta a vulnerabilidade à violência obstétrica, evidenciando o racismo institucional presente nos diversos serviços de saúde.
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