Por que (não) existem milagres no Novo Testamento? O ambiente mágico mediterrânico: notas sobre poder e magia antigos

Autores

  • André Leonardo Chevitarese
  • Daniel Brasil Justi

DOI:

https://doi.org/10.17648/rom.v0i9.18480

Palavras-chave:

Mística, Religião, Magia, Paleocristianismos, Semântica

Resumo

O que o presente texto defende é que o conceito fundamental para se falar de homens divinos que conhecem e manipulam as forças (dýnamis) cósmicas é o poder (dýnamis). É bastante evidente que na bacia mediterrânica a associação entre pessoas (homens divinos, magos, etc.) e poder (dýnamis) conformou um imaginário da magia. É exatamente essa associação que tornou conhecido o homem divino. Talvez por isso o Evangelho de João tenha evitado o seu uso. A advertência, aqui, é para que seja dada a devida atenção antes de se harmonizar a visão dos sinóticos quanto a suas respectivas compreensões de sēmĕîon, ĕrgŏn, tĕras e dýnamis, de um lado, e a visão joanina de sēmĕîon e ĕrgŏn, por outro. Uma vez posta a advertência sobre o risco da harmonização no emprego dos termos e seus respectivos significados e consequências, observada há séculos pela tradição cristã, torna-se imperioso analisar que papel o conceito de poder desempenha na questão semântica e, por conseguinte, na sua importância para a compreensão das experiências místicas mediterrânicas, no geral, e paleocristãs, em particular.

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Publicado

30-06-2017

Como Citar

CHEVITARESE, André Leonardo; JUSTI, Daniel Brasil. Por que (não) existem milagres no Novo Testamento? O ambiente mágico mediterrânico: notas sobre poder e magia antigos. Romanitas - Revista de Estudos Grecolatinos, [S. l.], n. 9, p. 65–90, 2017. DOI: 10.17648/rom.v0i9.18480. Disponível em: https://periodicos.ufes.br/romanitas/article/view/18480. Acesso em: 19 nov. 2024.

Edição

Seção

Dossiê: Magia, adivinhação e ritos apotropaicos na Antiguidade