Natureza Barata e Desigualdade Hidrossocial no Capitaloceno

Autores

  • Benilson Borinelli Universidade Estadual de Londrina
  • Fábio Coltro Universidade Estadual de Londrina
  • Josiane Rowiechi Universidade Estadual de Londrina
  • Kauana Rosa da Silva Universidade Estadual de Londrina https://orcid.org/0000-0001-6118-5836

DOI:

https://doi.org/10.47456/regec.2317-5087.2020.9.3.32045.122-146

Palavras-chave:

Desigualdade, Ciclo Hidrossocial, Capitaloceno, Antropoceno, Organizações

Resumo

O advento do Antropoceno tem fomentado inúmeras querelas entre correntes de pensamento sobre as causas e consequências dessa nova era para o planeta e para a humanidade, diante do iminente esgotamento e aprofundamento da distribuição desigual dos recursos naturais. Neste ensaio teórico crítico, propomos a noção de desigualdade hidrossocial como uma leitura alternativa da desigual apropriação física, discursiva e política da água sob a lógica capitalista. Para isso, recorremos, fundamentalmente, às contribuições do Capitaloceno, mais especificamente às ideias de Ecologia Mundo Capitalista e de Natureza Barata, e do ciclo hidrossocial. A noção de desigualdade hidrossocial permite atualizar e ampliar o marco analítico temporal, espacial e material da crise hídrica. A apropriação e distribuição assimétrica do “ciclo hidrológico” e de externalidades, com a submissão cada vez maior do ciclo hidrossocial à lógica neoliberal e estatal, tende a exacerbar as modalidades de desigualdade, injustiças, conflitos, violências de uma crise de grandes proporções.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Benilson Borinelli, Universidade Estadual de Londrina

Possui doutorado em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Campinas, UNICAMP, Brasil, mestrado e graduação em Administração pela Universidade Federal de Santa Catarina, UFSC, Brasil. Atualmente é professor adjunto da Universidade Estadual de Londrina, UEL, Brasil. Tem experiência na área de Administração, com ênfase em Política Ambiental, atuando principalmente nas seguintes linhas de pesquisa: política ambiental; economia solidária; responsabilidade social; instituições e meio ambiente

Fábio Coltro, Universidade Estadual de Londrina

Graduado em Marketing e Propaganda pela Universidade Norte do Parana (2001), Especialista em Bioética pela UEL - Universidade Estadual de Londrina (2002) e Mestre em Geografia, Meio Ambiente e Desenvolvimento pela UEL - Universidade Estadual de Londrina (2005) e Doutor em Geografia pela UEL - Universidade Estadual de Londrina e University of Cambridge (UK). Desenvolveu pesquisas na área de Animal Geography; Consumo Sustentável; Ética Animal; Responsabilidade Sócio-ambiental e Pós-humanismo.Também é pesquisador da área de bioética, em especial para a Ética Animal e Ética Ambiental da Sociedade Brasileira de Bioética. Tem experiência na área de pesquisa em relações humano-animal, atuando principalmente nos seguintes temas: Antropoceno; Animal Geographies, Bioética, Meio Ambiente, Ética animal. Atualmente pesquisa na área de Animal Geographies; Antropoceno e Capitaloceno.

Josiane Rowiechi, Universidade Estadual de Londrina

  Mestranda em Administração pela Universidade Estadual de Londrina. Especialista em Gestão Empresarial pela Faculdade Estadual de Ciências Econômicas de Apucarana (2007). Graduada em Administração de Empresas pela Faculdade Estadual de Ciências Econômicas de Apucarana (2004). Atualmente é professora na Universidade Estadual do Paraná: Campus - Apucarana

Kauana Rosa da Silva, Universidade Estadual de Londrina

 Mestranda em Administração – Universidade Estadual de Londrina (PPGA-UEL). Possui pós graduação em Docência do Ensino Superior pela Universidade do Norte do Paraná (Unopar), possui graduação em Administração pela Faculdade Anhanguera de Joinville (2013). Tem experiência na área de Administração.

Referências

Acselrad, H., Almeida, A.W., Bermann, C., Brandão, C.A., Carneiro, E., Leroy, J.P., Lisboa, M., Meirelles, J., Mello, C., Milanez, B., Novoa, L.F., O´Dwyer, E., Rigotto, R., Antunes Sant'ana Júnior, H., Vainer, C.B., & Zhouri, A. (2012). Desigualdade ambiental e acumulação por espoliação: o que está em jogo na questão ambiental? Coletivo Brasileiro de Pesquisadores da Desigualdade Ambiental. e-Cadernos CES (17) 164-183. https://doi.org/10.4000/eces.1138

Agência Nacional de Águas. (2019). Notícias. Brasília: Autor. Recuperado em 10 julho, 2020, de https://www.ana.gov.br/noticias-antigas/brasil-tem-cerca-de-12-das-reservas-mundiais-de-a.2019-03-15.1088913117

Altvater, E. (2016). The capitalocene, or geoengineering against capitalism’s planetary boundaries. In Jason W. Moore (red.), Anthropocene or Capitalocene? Nature, History, and the Crisis of Capitalism (pp. 138-153). San Francisco: PM Press.

Altvater, E. (1995). O preço da riqueza: pilhagem ambiental e a nova (des) ordem mundial. São Paulo: Editora UNESP.

Bakker, K. (2005). Neoliberalizing nature? Market environmentalism in water supply in England and Wales. Annals of the association of American Geographers, 95(3), 542-565. https://doi.org/10.1111/j.1467-8306.2005.00474.x

Banister, J. M. (2014). Are you Wittfogel or against him? Geophilosophy, hydro-sociality, and the state. Geoforum (57) 205-214. https://doi.org/10.1016/j.geoforum.2013.03.004

Bonneuil, C., & Fressoz, J. B. (2016). The shock of the Anthropocene: The earth, history, and us. London: Verso Books.

Brasil (2019) Ministério do Desenvolvimento Regional. Secretaria Nacional de Saneamento – SNS. Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento: Diagnóstico dos Serviços de Água e Esgotos – 2017. Brasília: SNS/MDR.

Braudel, F. (1983). The Perspective of the World. New York: Harper and Row.

Bruni, J. C. (1993). A água e a vida. Tempo social, 5 (1-2), 53-65. https://doi.org/10.1590/ts.v5i1/2.84942

Castree, N. (2008). Neoliberalising nature: the logics of deregulation and reregulation. Environment and planning A, 40 (1), 131-152. https://doi.org/10.1068/a3999

Castro, J. E. (2016). Água e democracia na América Latina. Campina Grande: EDUEPB (Editora da Universidade Estadual da Paraíba)

Costanza, R., d'Arge, R., De Groot, R., Farber, S., Grasso, M., Hannon, B., Limburg, K., Naeem, S., O’Neill, R.V., Paruelo, J., Raskin, R.G., Sutton, P., & Van den Belt, M. (1997). The value of the world's ecosystem services and natural capital. Nature, 387 (6630), 253-260.

Crutzen, P. J. (2002). Geology of mankind. Nature, 415 (6867), 23-23.

Cunha, D. (2015). O Antropoceno como fetichismo. Revista Continentes (6) 83-102.

Cunha, T. B., & Carvalhal, M. D. (2014). Terra–água–trabalho: o agrohidronegócio e a transposição do rio São Francisco. PEGADA - A Revista da Geografia do Trabalho, 15 (1), 70-94. https://doi.org/10.33026/peg.v15i1.2760

Deckard, S. (2019). Water shocks: Neoliberal hydrofiction and the crisis of “cheap water”. Atlantic Studies, 16 (1), 108-125. https://doi.org/10.1080/14788810.2017.1412181

Dryzek, J. S., & Pickering, J. (2018). The politics of the Anthropocene. Oxford: Oxford University Press.

Ellis, M. (2011). Introduction: The Anthropocene: a new epoch of geological time?. Philosophical Transactions: Mathematical, Physical and Engineering Sciences, 369 (1938), 835-841.

Fearnside, P. M. (2005). Desmatamento na Amazônia brasileira: história, índices e consequências. Megadiversidade, 1, 113-123.

Fearnside, P. M. (2019). Os números do desmatamento são reais apesar da negação do presidente Bolsonaro. Amazônia Real, 2. Recuperado em 15 julho, 2020 de https://amazoniareal.com.br/os-numeros-do-desmatamento-sao-reais-apesar-da-negacao-do-presidente-bolsonaro/

Federici, S. (2004). Caliban and the Witch. New York: Autonomedia.

Foster, J. B. (2016). Marxism in the anthropocene: Dialectical rifts on the left. International Critical Thought, 6 (3), 393-421. https://doi.org/10.1080/21598282.2016.1197787

Fremaux, A. (2019). After the Anthropocene: Green republicanism in a post-capitalist world. London: Palgrave Macmillan.

Fundo das Nações Unidas para a Infância (2019). 1 em cada 3 pessoas no mundo não tem acesso a água potável, dizem o UNICEF e a OMS. Comunicado de Imprensa. Recuperado em 14 julho, 2020 de https://www.unicef.org/brazil/comunicados-de-imprensa/1-em-cada-3-pessoas-no-mundo-nao-tem-acesso-agua-potavel-dizem-unicef-oms

Gelain, J.G. (2018). Análise do custo-benefício da exportação de água virtual no setor agropecuário brasileiro. (Dissertação de mestrado não-publicada) Programa de Pós-Graduação em Economia - Universidade de São Paulo, São Paulo - Brasil.

Goldblatt, D. (1986). Teoria social e ambiente. Lisboa. Instituto Piaget.

Harvey, D. (2004). Novo imperialismo. São Paulo: Edições Loyola.

Heikkurinen, P., Rinkinen, J., Järvensivu, T., Wilén, K., & Ruuska, T. (2016). Organising in the Anthropocene: an ontological outline for ecocentric theorising. Journal of Cleaner Production, 113(1), 705-714. https://doi.org/10.1016/j.jclepro.2015.12.016

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. (2017). Coordenação de População e Indicadores Sociais. Estimativas da população residente com data de referência 1º de julho. Recuperado em 12, de julho, 2020, de https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv101662.pdf

Jacobi, P.R., & Fracalanza, A.P. (2005). Comitês de bacias hidrográficas no Brasil: desafios de fortalecimento da gestão compartilhada e participativa. Desenvolvimento e Meio Ambiente, (11-12), 41-49.

Jessop, B. (2016). The State: past, presente, future. Cambridge: Polity Press.

Lei nº 14.026, de 15 de julho de 2020. (2020, 15 julho) Atualiza o marco legal do saneamento básico e dá outras providências. Diário Oficial da União. Recuperado de https://www.in.gov.br/web/dou/-/lei-n-14.026-de-15-de-julho-de-2020-267035421

Lewis, S. L., & Maslin, M. A. (2018). Human planet: How we created the Anthropocene. New Haven. Yale University Press.

Lima, A., Abrucio, F.L., & e Silva, F.C.B. (2014). Governança dos recursos hídricos: proposta de indicador para acompanhar sua implementação. WWF-Brasil: FGV. Recuperado em 11 julho, 2020, de https://wwfbr.awsassets.panda.org/downloads/wwf_fgv_governanca_dos_recursos_hidricos.pdf

Linton, J., & Budds, J. (2014). The hydrosocial cycle: Defining and mobilizing a relational-dialectical approach to water. Geoforum (57) 170-180. https://doi.org/10.1016/j.geoforum.2013.10.008

McCarthy, J. (2007). States of nature: Theorizing the state in environmental governance. Review of International Political Economy, 14 (1), 176-194.

Moore, J. W. (2015). Capitalism in the Web of Life: Ecology and the Accumulation of Capital. London: Verso Books.

Moore, J. W. (2016). The rise of cheap nature. In Jason W. Moore (red.), Anthropocene or Capitalocene? Nature, History, and the Crisis of Capitalism (pp. 78-115). San Francisco: PM Press

Moore, J. (2019). The Capitalocene and Planetary Justice. Maize (6), 49-54.

Morosini, L. (2018). Mais caro, menos eficaz. Revista Radis (118) 30-33. Disponível: https://portal.fiocruz.br/sites/portal.fiocruz.br/files/documentos/radis189_mais_caro_menos_eficaz.pdf

O'Connor, J. R. (Ed.). (2002). Natural causes: Essays in ecological Marxism. New York: Guilford Press.

Parenti, C. (2016). Environment-making in the capitalocene: Political Ecology of the State. In Jason W. Moore (red.), Anthropocene or Capitalocene? Nature, History, and the Crisis of Capitalism (pp.166-83). San Francisco: PM Press.

Patel, R., & Moore, J. W. (2017). A history of the world in seven cheap things: A guide to capitalism, nature, and the future of the planet. Berkeley: University of California Press.

Pinto, J. R. L.; Noronha, S. & Ferreira, M. (2018) Quem são os proprietários do saneamento no Brasil? Instituto Mais Democracia. Recuperado em 10 julho, 2020, de https://br.boell.org/pt-br/2018/04/16/quem-sao-os-proprietarios-do-saneamento-no-brasil.

Prizibisczki, C. (2019) Não há dúvidas de que fumaça de queimadas atingiram capital paulista, diz Antonio Nobre, do INPE. O Eco. Recuperado em 08 julho, 2020, de https://www.oeco.org.br/noticias/nao-ha-duvidas-de-que-fumaca-de-queimadas-atingiram-capital-paulista-diz-antonio-nobre-do-inpe/

Rockström, J., W. Steffen, K. Noone, Å. Persson, F. S. Chapin, III, E. Lambin, T. M. Lenton, M. Scheffer, C. Folke, H. Schellnhuber, B. Nykvist, C. A. De Wit, T. Hughes, S. van der Leeuw, H. Rodhe, S. Sörlin, P. K. Snyder, R. Costanza, U. Svedin, M. Falkenmark, L. Karlberg, R. W. Corell, V. J. Fabry, J. Hansen, B. Walker, D. Liverman, K. Richardson, P. Crutzen, & Foley J.. (2009). Planetary boundaries: exploring the safe operating space for humanity. Ecology and Society, 14(2): 32.

Safri, M., & Graham, J. (2010). The global household: Toward a feminist postcapitalist international political economy. Signs: Journal of Women in Culture and Society, 36 (1), 99-125.

Santos, R. S. P., & Milanez, B. (2018). A construção do desastre e a “privatização” da regulação mineral: reflexões a partir do caso do vale do rio Doce. In Zhouri, A. (Org.) Mineração, violências e resistências: um campo aberto à produção de conhecimento no Brasil (pp. 111-154). Marabá: Editorial iGuana.

Soares, W. L., & Porto, M. F. (2007). Atividade agrícola e externalidade ambiental: uma análise a partir do uso de agrotóxicos no cerrado brasileiro. Ciência & Saúde Coletiva 12 (1) 131-143. http://dx.doi.org/10.1590/S1413-81232007000100016.

Svampa, M. (2019). As fronteiras do neoextrativismo na América Latina. São Paulo: Editora Elefante.

Swyngedouw, E. (2007). Water, power, and money. In Panitch, L., & Leys, C. (Orgs). Socialist Register 2007: coming to terms with nature (pp. 195-212). Monmouth: The Merlin Press.

Swyngedouw, E. (2009). The political economy and political ecology of the hydro‐social cycle. Journal of contemporary water research & education, 142 (1), 56-60.

Swyngedouw, E. (2015). Liquid power: Contested hydro-modernities in twentieth-century Spain. Cambridge: MIT Press.

Tible, J. (2018). Marx selvagem. São Paulo: Editora Autonomia Literária.

Walker, R. (2017). Value and nature: Rethinking capitalist exploitation and expansion. Capitalism Nature Socialism, 28(1), 53-61. https://doi.org/10.1080/10455752.2016.1263674

Wallerstein, I. (2011). The modern world-system I: Capitalist agriculture and the origins of the European world-economy in the sixteenth century (Vol. 1). Berkeley: University of California Press.

Wright, C., Nyberg, D., Rickards, L., & Freund, J. (2018). Organizing in the Anthropocene. Organization, 25 (4), 455-471.

World Health Organization & United Nations Children’s Fund. (2019). Progress on household drinking water, sanitation, and hygiene 2000-2017: special focus on inequalities. Recovered on July 14, 2020 from https://www.who.int/water_sanitation_health/publications/jmp-2019-full-report.pdf?ua=1

Zhouri, A., Laschefski, K., & Pereira, D.B. (2005). A insustentável leveza da política ambiental: desenvolvimento e conflitos socioambientais. Belo Horizonte: Autêntica Editora.

Downloads

Publicado

22-04-2021

Como Citar

Borinelli, B., Coltro, F. ., Rowiechi, J. ., & Silva , K. R. da. (2021). Natureza Barata e Desigualdade Hidrossocial no Capitaloceno. Revista Gestão & Conexões, 9(3), 122–146. https://doi.org/10.47456/regec.2317-5087.2020.9.3.32045.122-146

Edição

Seção

Seção Especial: Relações organização-natureza no Antropoceno:“Nossa casa está...